sábado, 26 de dezembro de 2009

Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica

Estive afastada das minhas atividades ligadas ao blog devido a exigências típicas de fim de ano.

Neste ínterim participei do Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica(FMEPT) que ocorreu em minha cidade, Brasília. Um evento de tal grandeza levou-me a esforçar-me para comparecer. As conferências e encontros individuais com outros educadores nutriram-me de idéias dignas de exposição. Uma delas, creio, deve ser apresentada dada a justificativa para nosso acompanhamento no evento.

Sabemos que trabalho em uma escola pública de 1ª a 6ª séries do ensino fundamental. Fui questionada sobre o que estava fazendo em um Fórum de Educação Profissional e Tecnológica. Muito simples, para chegar à educação técnica é necessário passar pela educação fundamental.

Esta primeira resposta teve eco na conferência de Márcio Porchmann no primeiro dia. Este educador é presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, professor da UniCamp e descreveu sucintamente o atual estado da sociedade brasileira em seus aspectos econômicos e relacionais. Falou sobre a nova constituição familiar, com menos crianças e vários enlaces amorosos e o conseqüente predomínio de famílias monoparentais. Em contraste com as constituições anteriores, na qual um aniversário ou comemoração reunia dezenas de pessoas sem contar os agregados, nessa perspectiva há redução da possibilidade de socialização através da família devido a sua evidente redução de entes. Esse dado implica em importante queda de qualidade de vida, de oportunidade de conhecimentos e diminuição drástica nas redes sociais (vide Redes Sociais, neste sítio, setembro de 2009). As soluções dos problemas surgidos com esta nova constituição familiar deverão ser dadas por alguém ou alguma instituição. É claro que a solução deve ser oferecida pela escola. Estava, eu, pois, no lugar certo!

Fomos brindados também pela conferência de Leonardo Boff. Apesar deste senhor dispensar apresentações, meu colega de lado perguntou-me qual era a instituição que ele representava. Quem me conhece deve imaginar a cara que fiz: assombro total. Boff foi aplaudido sete vezes em uma hora de palestra. Seus argumentos vão de bactérias a vários universos ao invés de um; corrigindo-me, conforme Boff, pluriverso. Devo acrescentar que as informações que Boff apresenta são assustadoras, mas perfeitamente aceitáveis, talvez pela forma com que ele as profere, talvez pela sua aparência doce e confiável.

É de Boff a responsabilidade do meu atraso em escrever resumidamente os novos conhecimentos adquiridos no Fórum. Não aceitei escrever sem um link para sua palestra. Tal complexidade ela contém que não me senti capaz de resumi-la. Sua principal idéia, para mim, é a nossa dependência do planeta. A Terra pode ficar sem os seres humanos, mas nós não temos outro veículo. Não é apenas uma dependência alimentar. Necessitamos deste abrigo. Não podemos estar em outro lugar. No entanto, estamos destruindo quem nos acolhe e oferece tudo de que necessitamos. Sua conferência é emocionante e não nos permite alternativa senão lutar incansavelmente pela recuperação de nossa casa – segundo ele, nossa Mãe Terra. Na última semana de novembro, período em que se realizou o FMEPT, a Cop 15 ainda não havia começado. Talvez a desesperança provocada por Copenhagen possa ser reduzida com a sua conferência: http://sitefmept.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=347&catid=39&Itemid=220

No dia 26 de novembro, os trabalhos do FMEPT foram abertos com a Caravana da Anistia, em sessão solene de julgamento do processo de anistia de Paulo Freire. A vida deste exemplar educador foi apresentada, assim como sua perseguição política pelo Estado Brasileiro. Após aprovação unânime do parecer do relator do processo, a palavra foi dada a sua viúva. Preparada e ansiosa por vivenciar este momento, a representante de Paulo Freire expôs, com veemência, o sofrimento provocado pela ditadura ao homem que tanto amava sua Recife. Durante sua fala, podíamos ouvir os sons típicos de choro em toda a platéia. Quanto a mim, não presenciei palestra mais emocionante. Além do momento histórico que presenciávamos, o pedido oficial de desculpas do governo brasileiro a tão nobre cidadão, a forma com que tudo se deu, o local mais que apropriado, as palavras ricamente escolhidas por Ana Maria Araújo que possibilitavam a empatia e compaixão pelo sofrimento provocado em Freire pela sua expulsão compulsória do seu país, tudo isto justifica nossa expressão de emoção. http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u657969.shtml

Ao fim do FMEPT eu percebia o quanto a educação ainda é tida como a redenção para os problemas que vamos enfrentar. Acredito que a crise pela qual passamos ainda não acabou, principalmente após ouvir Boff, e que continuaremos sem apoio real para realizarmos o que sociedade e intelectuais tanto esperam de nós. Assim como o método de Paulo Freire nunca foi implantado no Brasil, também nós modificamos vidas em nossas escolas com nosso esforço pessoal. Conforme proferiu Moacir Gadotti, momentos depois do julgamento da anistia citada, Paulo Freire somente será realmente anistiado quando não mais houver analfabetos no Brasil.

sábado, 21 de novembro de 2009

Curso de Escutatória

Durante a leitura da minha antepenúltima postagem Sobre indisciplina coletiva detectei a possibilidade da interpretação de que os alunos têm solução para seus problemas coletivos. Bem, não acredito nisto. O que eu quis dizer é que se ouvirmos uma turma em relação a um problema que professores encontram nela, perceberemos melhor e mais rapidamente a solução mais viável e correta para o assunto.

Acredito muito no desenvolvimento que o estudo e a auto-compreensão trazem. Como nós somos adultos temos mais disto que os pequenos. Porém eles têm informações e não costumam ser ouvidos. Esta é, então, a minha proposta: ouvir os alunos a respeito de questões mesmo quando são de difícil solução.

Como psicóloga tenho percebido intensamente como a escuta faz diferença para as pessoas. Não estamos acostumados a ser ouvidos. Há um texto de Rubem Alves chamado Curso de Escutatória que fala sobre o poder do silêncio e da necessidade de ser ouvido/a. Nós, psicólogos, usamos a escuta como instrumento de trabalho. É com ela que entendemos onde está a questão que aflige o outro e podemos assim auxiliá-lo, realizando nossa função primordial.

Esta ferramenta é por nós usada com profundidade. Mas todos os humanos devem fazer uso dela. Rubem Alves propõe isto e o escreve com sua magnitude peculiar.

Procurando o texto para disponibilizá-lo, achei um sítio que talvez interesse pela delicadeza. Resolvo expor o texto do mestre com sua fonte para que minhas/meus leitoras/es possam passear livremente.

Gostaria de alertar as/os colegas para o grande risco que representa a substituição de discurso. Devemos estar sempre atentas para ela ao escutar uma pessoa individualmente ou em grupo. A partir do que é dito poderemos elaborar formas de ultrapassar as dificuldades provocativas de acordo com nossas teorias de base e (as) desenvolvidas pessoalmente.


Curso de Escutatória, por Rubem Alves.

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular.

Escutar é complicado e sutil. Diz o Alberto Caeiro que “não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma”. Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Aí a gente que não é cego abre os olhos. Diante de nós, fora da cabeça, nos campos e matas, estão as árvores e as flores. Ver é colocar dentro da cabeça aquilo que existe fora. O cego não vê porque as janelas dele estão fechadas. O que está fora não consegue entrar. A gente não é cego. As árvores e as flores entram. Mas – coitadinhas delas – entram e caem num mar de idéias. São misturadas nas palavras da filosofia que mora em nós. Perdem a sua simplicidade de existir. Ficam outras coisas. Então, o que vemos não são as árvores e as flores. Para se ver e preciso que a cabeça esteja vazia.

Faz muito tempo, nunca me esqueci. Eu ia de ônibus. Atrás, duas mulheres conversavam. Uma delas contava para a amiga os seus sofrimentos. (Contou-me uma amiga, nordestina, que o jogo que as mulheres do Nordeste gostam de fazer quando conversam umas com as outras é comparar sofrimentos. Quanto maior o sofrimento, mais bonitas são a mulher e a sua vida. Conversar é a arte de produzir-se literariamente como mulher de sofrimentos. Acho que foi lá que a ópera foi inventada. A alma é uma literatura. É nisso que se baseia a psicanálise…) Voltando ao ônibus. Falavam de sofrimentos. Uma delas contava do marido hospitalizado, dos médicos, dos exames complicados, das injeções na veia – a enfermeira nunca acertava -, dos vômitos e das urinas. Era um relato comovente de dor. Até que o relato chegou ao fim, esperando, evidentemente, o aplauso, a admiração, uma palavra de acolhimento na alma da outra que, supostamente, ouvia. Mas o que a sofredora ouviu foi o seguinte: “Mas isso não é nada…” A segunda iniciou, então, uma história de sofrimentos incomparavelmente mais terríveis e dignos de uma ópera que os sofrimentos da primeira.

Parafraseio o Alberto Caeiro: “Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma.” Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. No fundo somos todos iguais às duas mulheres do ônibus. Certo estava Lichtenberg – citado por Murilo Mendes: “Há quem não ouça até que lhe cortem as orelhas.” Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos…

Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos, estimulado pela revolução de 64. Pastor protestante (não “evangélico”), foi trabalhar num programa educacional da Igreja Presbiteriana USA, voltado para minorias. Contou-me de sua experiência com os índios. As reuniões são estranhas. Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, como se estivessem orando. Não rezando. Reza é falatório para não ouvir. Orando. Abrindo vazios de silêncio. Expulsando todas as idéias estranhas. Também para se tocar piano é preciso não ter filosofia nenhuma). Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito. Pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que julgava essenciais. Sendo dele, os pensamentos não são meus. São-me estranhos. Comida que é preciso digerir. Digerir leva tempo. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se falo logo a seguir são duas as possibilidades. Primeira: “Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava eu pensava nas coisas que eu iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado.” Segunda: “Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.” Em ambos os casos estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: “Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.” E assim vai a reunião.

Há grupos religiosos cuja liturgia consiste de silêncio. Faz alguns anos passei uma semana num mosteiro na Suíça, Grand Champs. Eu e algumas outras pessoas ali estávamos para, juntos, escrever um livro. Era uma antiga fazenda. Velhas construções, não me esqueço da água no chafariz onde as pombas vinham beber. Havia uma disciplina de silêncio, não total, mas de uma fala mínima. O que me deu enorme prazer às refeições. Não tinha a obrigação de manter uma conversa com meus vizinhos de mesa. Podia comer pensando na comida. Também para comer é preciso não ter filosofia. Não ter obrigação de falar é uma felicidade. Mas logo fui informado de que parte da disciplina do mosteiro era participar da liturgia três vezes por dia: às 7 da manhã, ao meio-dia e às 6 da tarde. Estremeci de medo. Mas obedeci. O lugar sagrado era um velho celeiro, todo de madeira, teto muito alto. Escuro. Haviam aberto buracos na madeira, ali colocando vidros de várias cores. Era uma atmosfera de luz mortiça, iluminado por algumas velas sobre o altar, uma mesa simples com um ícone oriental de Cristo. Uns poucos bancos arranjados em “U” definiam um amplo espaço vazio, no centro, onde quem quisesse podia se assentar numa almofada, sobre um tapete. Cheguei alguns minutos antes da hora marcada. Era um grande silêncio. Muito frio, nuvens escuras cobriam o céu e corriam, levadas por um vento impetuoso que descia dos Alpes. A força do vento era tanta que o velho celeiro torcia e rangia, como se fosse um navio de madeira num mar agitado. O vento batia nas macieiras nuas do pomar e o barulho era como o de ondas que se quebram. Estranhei. Os suíços são sempre pontuais. A liturgia não começava. E ninguém tomava providências. Todos continuavam do mesmo jeito, sem nada fazer. Ninguém que se levantasse para dizer: “Meus irmãos, vamos cantar o hino…” Cinco minutos, dez, quinze. Só depois de vinte minutos é que eu, estúpido, percebi que tudo já se iniciara vinte minutos antes. As pessoas estavam lá para se alimentar de silêncio. E eu comecei a me alimentar de silêncio também. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. E música, melodia que não havia e que quando ouvida nos faz chorar. A música acontece no silêncio. É preciso que todos os ruídos cessem. No silêncio, abrem-se as portas de um mundo encantado que mora em nós – como no poema de Mallarmé, A catedral submersa, que Debussy musicou. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar – quem faz mergulho sabe – a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Me veio agora a idéia de que, talvez, essa seja a essência da experiência religiosa – quando ficamos mudos, sem fala. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar. Para mim Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto…


Fonte: http://questionar.wordpress.com/2009/07/21/curso-de-escutatoria-%e2%80%93-rubem-alves/

Curso de Prevenção do Uso de Drogas para Educadores de Escolas Públicas

Em todas as escolas há drogas... A média de idade do primeiro contato com substâncias psicoativas é de 12 anos... A escola é espaço privilegiado para prevenção porque todas as crianças e adolescentes devem freqüentá-la.

O problema do uso, abuso e dependência de drogas está relacionado à nossa cultura. O uso de psicoativos sempre esteve presente nas sociedades humanas, porém associado a rituais. A sociedade ocidental descontextualiza o uso de elementos alteradores de consciência, transformando essa prática em problema.

A proibição não diminui o uso de psicotrópicos. A informação oferecida pelas muitas mídias não reduz os índices de uso a ponto de diminuir a preocupação dos órgãos governamentais de saúde. Os efeitos do abuso de drogas sobre o próprio organismo não inibe a continuidade do uso. Apesar da aparente impossibilidade de solução deste problema, não é possível também que esperemos os efeitos sem qualquer ação. Assim, cabe principalmente à escola o serviço público de alertar para os efeitos e perigos associados ao uso de drogas psicoativas.

O Programa de Estudos e Atenção às Dependências Químicas (PRODEQUI), a pedido do Ministério da Educação em associação com a Universidade de Brasília, elaborou o Curso de Prevenção de Uso de Drogas para Educadores de Escolas Públicas com objetivo de “capacitar educadores para uma abordagem de forma aberta, integrada, cooperativa e eficiente das situações do cotidiano escolar relacionadas ao uso de drogas, bem como para o adequado encaminhamento de usuários e familiares para a rede de serviços especializados; [e de] instrumentalizar os educadores com conhecimentos científicos e técnicos que lhes permitam planejar e executar ações preventivas no âmbito da escola.” (Guia do Aluno)

O curso, além de informações sobre os diversos tipos de drogas, seus efeitos e impactos sobre a família e a sociedade; também apresenta características importantes da adolescência enquanto fase da vida. As diferenças na propensão e impactos que substâncias psicoativas podem apresentar sobre o organismo humano também são expostas, alertando para diferenças individuais. São informadas como características de vulnerabilidade individual na adolescência “baixa auto-estima, falta de autoconfiança, dificuldade de tomar decisões; fatores biológicos; conflitos familiares e violência doméstica; fracasso ou exclusão escolar; regras e sanções ambíguas ou inconsistentes na família ou na escola; falta de vínculos afetivos com a comunidade; falta de consciência dos efeitos das drogas; ausência de participação social e de um projeto de vida.” (pág. 95) Além disso, há “condições sociais como o desemprego, a discriminação, o empobre-cimento, a violência, assim como a disponibilidade de acesso às drogas, são fatores importantes na configuração do abuso de drogas.” (pág. 95)

A instrumentalização das possíveis ações a serem desenvolvidas pelos alunos-educadores advém das leis brasileiras; da teoria sistêmica utilizando a compreensão contextual do uso, abuso e dependência; e do estudo das redes sociais pessoais e da instituição de ensino como fatores de proteção ou de risco para o uso de psicoativos. A partir destes instrumentos, os educadores são convidados a buscar parcerias na comunidade que abarca a escola e a residência dos alunos atendidos. Formas de envolver a família dos alunos também são propostas, assim como as possibilidades de empoderamento das mesmas de modo a potencializar a ação preventiva desenvolvida pelos educadores na escola.

Muitas são as possibilidades de se tratar o assunto nas atividades escolares, tradicionais ou não:
integrando o assunto nas disciplinas ministradas de modo a provocar sua discussão e conseqüente familiarização/desmistificação pelos alunos;
envolvendo o tema na programação de eventos que a escola organiza durante o ano;
estabelecendo ações e prevendo eventos no projeto pedagógico da escola;
envolvendo o professor pessoalmente, fazendo-o repensar sua vivência com as drogas, o impacto dela em sua vida e sua reações a ela objetivando a possibilidade de tratar do assunto com maior tranqüilidade e segurança;
promovendo a formação de adolescentes multiplicadores de informações de prevenção ao uso, abuso e dependência de psicoativos.

Todas essas ações devem ser desenvolvidas com integração da maior quantidade de profissionais possível e sempre com a participação ativa de professores, pois estes são os atores principais de uma instituição escolar. É necessário estabelecer a demanda da escola, os objetivos a serem atingidos e as metas a curto, médio e longo prazo, qual população será alvo do trabalho. A comunidade escolar deve estar envolvida nas atividades desde o seu início e a programação deve constar em um plano de ação.

O curso aqui analisado sugere que após o conhecimento da escola e/ou da comunidade é possível realizar o diagnóstico da instituição na qual se aplicará o plano através do levantamento de informações sugerindo-se a utilização dos seguintes instrumentos: contato com informantes-chave; observação; pesquisa; expectativas; demandas.

Este diagnóstico será um dos itens do projeto de atuação anti-drogas a ser realizado como trabalho final dos alunos-educadores do curso aqui analisado. Os alunos são estimulados a desenvolver o projeto definindo atividades, sensibilizando as pessoas da instituição ou da comunidade para sua implantação, selecionando o material educativo adequado à população-alvo, capacitando recursos humanos para o trabalho preventivo, realizando oficinas para disponibilizar conhecimentos e desenvolver habilidades, realizando atividades com alunos, identificando os recursos necessários, avaliando custos, construindo parcerias, definindo prazos e formas para avaliar o projeto.

Percebe-se que o curso apresenta sugestão para a alusão do assunto de forma individual a ser usado no caso de alunos que estão usando produtos psicoativos sem oferecer fórmulas. Há indicações de leis e órgãos a serem buscados para auxiliar nestes casos. Assim, o educador deixa de sentir-se abandonado com um grande problema que detectou.

Outra questão bastante interessante é a possibilidade de uso das informações e do enfoque usado com os alunos, em grupo ou separadamente, embasados no tempo presente. Isto é considerado importante porque crianças e adolescentes não apresentam pensamento projetivo ou abstração desenvolvidas como os adultos. Não é possível, portanto, analisar um assunto argumentando sobre o tempo futuro quando seu interlocutor é muito jovem – os efeitos do consumo após dez anos, o impacto da falta de estudos na vida adulta, a redução da capacidade de raciocínio devido à dependência, as restrições no campo social. O enfoque do discurso que causa efeito nessa faixa etária deve ser dado no tempo presente e este curso apresenta argumentos que possibilitam esta abordagem.

Sabe-se que o curso em análise tem sido aplicado desde 2004, sendo o presente ano o terceiro. No primeiro ano foram atendidos cinco mil alunos-educadores; em 2006 o número de estudantes cresceu para dez mil e em 2009, são vinte e cinco mil cursantes em todo o Brasil. É provável que no ano de 2010 não haja ampliação deste número. O curso é desenvolvido à distância com monitoramento constante. Conta com várias mídias como auxiliares do processo de ensino, a saber, livro, cd-rom, fórum de debates na internet, grupos de estudo, exercícios a cada lição, consulta a monitores on-line. A programação prevê dezesseis lições com um curtametragem associado. Na última lição, são oferecidas informações para a montagem do plano de ação antidrogas que foi construído durante todo o curso através dos exercícios.

Infelizmente não há garantia de que os alunos-educadores efetivarão o plano construído nem há compulsoriedade desta ação. Consequentemente, a avaliação do curso, ou seja, o impacto dele sobre as comunidades atingidas não ocorre. Em entrevista a coordenadora do PRODEQUI, Professora Doutora Maria Fátima Olivier Sudbrack, relatou a preocupação do órgão com este ponto. Estuda-se métodos para o acompanhamento pós-curso como forma de garantia de execução e ganhos efetivos para a comunidade escolar.

Para outras informações sobre o curso, acesse:
http://www.prodequi.unb.br/moodlesenad/

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

3000

Como de costume, a cada milhar escrevo para marcar a data.

Além de agradecer aos/às leitores/as e amigas/os que ajudam na propaganda deste blog, gostaria de compartilhar que recebo muitos comentários positivos de algumas/ns visitantes que me saúdam pela fluência do texto e interesse despertado pelas questões apresentadas.

A estes/as incentivadores, o meu "muito obrigada" porque são estas palavras que reforçam a minha vontade de escrever.

A quantidade de acessos indica que o exercício da escrita e da exposição de experiências têm sua fundamentação no ato de compartilhar e convidar ao desenvolvimento conjunto.

domingo, 25 de outubro de 2009

Sobre indisciplina coletiva

Um/a leitor/a solicitou auxílio para lidar com sua classe indisciplinada (comentou na postagem “Dinâmica laboral de uma escola”). Agradeço a questão!

Entendo que todo o comportamento pode ser interpretado como uma forma de comunicação. Assim, a indisciplina dos alunos indica um desconforto com alguma coisa. Se ela está muito relacionada com a violência, então apresenta o principal perfil da nossa sociedade atual.

O avanço da violência que percebemos hoje em todos os níveis de relacionamento entre humanos aponta para um modelo. Eu penso que a principal raiz deste modelo está nas produções audio-visuais que consumimos. Um dos diretores mais famosos e valorizados é Quentin Tarantino. Ele afirma que a câmera cinematográfica foi inventada para fotografar a violência. Filmes de longa-metragem para cinema ou televisão, seriados, desenhos animados são realizados com base em relações violentas. Produções que não apontam conflito não geram bilheteria e são sem graça. Esta cultura de agressividade tem chegado às músicas e o sucesso dos raps entre adolescentes mostram isto. Nossos telejornais também mostram esta preferência. Há jornais escritos que são classificados pela metáfora: quando torcemos este jornal, pinga sangue. Os mortos são fotografados e apresentados sem pudor algum e os jornais são consumidos vorazmente.

Não podemos esperar que as crianças apresentem comportamentos diferentes dos que elas presenciam em casa, nas novelas, nos filmes, nos desenhos. Que tipo de expressão afetiva elas mostrarão senão aprendem nada diferente? A violência e o desrespeito são valorizados socialmente em seus mínimos gestos.

Nossos alunos mais violentos são tratados com outro tipo de afeto. Uma vez me surpreendi com minha reação agressiva frente a um aluno e sua mãe. Ele gritava comigo e com sua mãe, recusando tudo o que lhe oferecíamos. Ela bateu nele duas vezes na minha frente. Após perceber a minha própria reação e com a saída da mãe por alguns instantes, toquei o braço do aluno com delicadeza e falei-lhe bem baixinho e com doçura. Ele então aceitou um copo d’água que lhe ofereci, andamos um pouco até o bebedouro para que ele respirasse melhor, aguardei que bebesse a água, dispensei a mãe e comecei a conversar com ele informando quais eram meus objetivos, proposta de trabalho e exemplo de um caso bem sucedido que ele conhecia. Desde então, sua extrema reatividade acabou.

Com este exemplo procuro mostrar que há casos em que o/a aluno/a não sabe outra forma de expressar-se. Como sempre é incompreendido quando está agitado, não percebe que pode mudar pequenas coisas e, consequentemente, transformar a reação dos outros em relação a si mesmo. Na verdade, muitos de nós, mesmo adultos, não percebemos isto.

Minha sugestão para tratar uma turma inteira indisciplinada é conversar com todos de forma que eles/as possam se olhar e se ouvir. Eles/as devem entender que a desorganização é prejudicial a todos e responsabilidade deles/as também. O silêncio é feito por cada um e cada um deve responder pelo seu silêncio.

É necessário dar a palavra ao/às alunos/as. Eles/as apresentam excelentes alternativas de solução de problemas. Apostemos nas idéias das novas gerações. Ninguém melhor do que nossos alunos/as se conhecem, individualmente e em grupo. Eles/as sabem quem faz mais bagunça, pois estão atentos para a diferença da turma quando alguém falta à aula. Valorizemos suas idéias, sua comunicação oral, facial e gestual. Devemos oferecer alternativas de comunicação para os pequenos. Conhecer suas famílias e entender como se relacionam e comunicam para melhor compreendê-los e, assim, educá-los.

Também é importante que eles/as saibam que estão sendo agressivos oral, facial e gestualmente e o quanto isto é ruim para nós. Esta conversa especificamente deve ser individual para que não se posicionem contra nós perante a turma de modo a se fortalecerem, o que é bastante valorizado socialmente entre os/as alunos/as.

Espero que a pessoa que suscitou esta postagem tenha tido acesso a ela e que a tenha atendido. Caso não tenha surtido efeito, solicito que indique pormenores para que eu possa ser mais específica. Se preferir, envie e-mail para mim diretamente: vicenzacapone@hotmail.com e ficarei feliz em auxiliar.

domingo, 18 de outubro de 2009

Violência contra educadores

Hoje recuperei um relato meu sobre uma crise de aluno durante atendimento psicopedagógico. Muitos foram os fatores posteriormente identificados que provocaram uma forte reação agressiva por parte deste meu aluno. Trago meu próprio relato para mostrar o pânico que os educadores sofrem quando lidam com casos de agressividade dentro das escolas. O problema que enfrentei teve sua origem nas instituições e não na criança atendida. Um dos fatores identificados como propiciadores de sua reação foi a falta de acompanhamento dos responsáveis pelo abrigo que acolhia esta criança. Além disso, a falta de apoio dos gestores da educação e a incompreensão que sofri por parte dos colegas de trabalho me deixaram chocada com a forma que a situação foi conduzida (na verdade, percebo hoje que havia um desejo de que a situação fosse simplesmente ignorada).

Passei a atuar como psicóloga escolar este ano e em minha escola estuda um ex-menino de rua. Após conhecer um pouco da história do menino, decidi fazer uma intervenção mais freqüente com ele que agia de forma completamente diferente dos outros. Ele tem sete anos e já passou por tudo que meninos de rua costumam passar. Após três meses de atendimento, eu ainda não conhecia muito o menino, pois ele fala muito pouco. Devido a uma mudança de horário, um dia o menino agitou-se a ponto de me jogar todos os móveis que havia em minha sala assim como todos os objetos pequenos. Eu o atendia com mais duas crianças que foram tiradas às pressas da sala para não serem machucadas. À noite, minha mãe me perguntou se eu tinha ido fazer exame de corpo delito e eu respondi, alarmada, que não, claro que não! Ela então me disse: “até quando vocês vão apanhar dessas crianças?” Liguei então para uma amiga/colega de trabalho e ela foi mais enfática que minha mãe. Fazer o exame e um relatório para minha central explicando o fato. Fui então à delegacia onde o policial me explicou que nada aconteceria com o garoto e que não havia outra forma de realizar o exame, comprovando a agressão. Não tive apoio na escola onde atuava, pois ela é considerada muito tranqüila e a direção questionou meu relatório. Aparentemente estavam com medo de alguma coisa que ainda não consegui perceber. Quando fui entregar meu relatório na central, a outra chefia perguntou qual era a escola e uma vez respondida ela disse: "mas é uma escola tão tranquila!" Ainda não sei o que esse povo quis dizer. Quarenta dias depois do ocorrido, a conselheira tutelar que toma conta do menino visitou a escola. Perguntou o que tinha acontecido. Contou a história de vida do menino. Ao final, ela questionou quem era a vítima da história e disse que eu não deveria ter ido à polícia. Eu não esperei que ela dissesse a razão para não ir, respondi-lhe que não havia outra forma de fazer o exame de corpo delito e que o policial me garantiu que nada aconteceria ao garoto. Nossa infância está dilacerada! As pessoas que estão em idade reprodutiva não são adultas para educar suas crias. Nós da educação não conseguimos lidar com essas crianças tão protegidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Temos que compreender como pensam essas novas crianças de modo que elas também nos compreendam. Mas será que elas têm algum interesse em ser compreendidas? E o que podemos dar para essa nova geração? Nossa ciência não oferece subsídios para essa realidade tão crua e nós, que estamos com as mãos na carne, temos que inventar alguma coisa para evitar esse caos que tão rapidamente se aproxima.

O crescimento da violência nas escolas toma um vulto que chegamos a pensar na mudança de leis ou criação de outras. O Jornal do Senado, em sua edição semanal de 12 a 18 de outubro de 2009, tem a violência escolar como manchete principal. A matéria intitulada “Violência escolar explode no mundo todo” e toma toda a página central do periódico legislativo. Ela informa a inclusão da cultura da paz entre os objetivos básicos da educação nacional. Para íntegra da matéria, acesse http://www.senado.gov.br/JORNAL/arquivos_jornal/arquivosPdf/091012.pdf

Uma das colunas será aqui transcritas na íntegra devido a sua importância e alcance conforme nosso julgamento.

O que fazer em cada caso
Quando ocorre violência na escola, é preciso tomar atitudes imediatas. Veja como o professor deve agir nas seguintes situações:
Aluno armado na escola: só converse com a criança/adolescente se sentir que o diálogo é possível. Peça à direção que chame a polícia, cujo dever é abrir processo no juizado da infância e da juventude.
Ameaça ao professor: a vítima deve registrar ocorrência na delegacia de polícia, pedir a intervenção do conselho tutelar, conversar com os pais e a comunidade. Em último caso, pode ser inevitável solicitar a transferência do aluno.
Agressão: informe a direção da escola e a diretoria regional de ensino, registre a ocorrência na polícia, de preferência acompanhada pelo diretor da escola. Se o agressor for menor de 12 anos, é obrigatória a convocação de representante do conselho tutelar.
Arrombamentos e furtos: dar queixa na polícia é obrigatório.
Suspeita de abuso em casa: é obrigação da escola comunicar o conselho tutelar. O mesmo vale para ausência prolongada do estudante.”

No caso de agressão, acrescento que o relatório encaminhado a cada uma das instâncias acima indicadas deve ter uma cópia encaminhada à Promotoria da Educação (ProEduc) do Ministério Público. Os casos de violência sofridos pelos profissionais da educação devem ser denunciados e não esquecidos, escamoteados. E os profissionais devem ser apoiados. Se as políticas de prevenção propostas para a nossa sociedade passa pela escola, os educadores devem ser empoderados em sua ação ao invés de massacrados por exigências de outras instâncias públicas e falta de respeito de alunos, pais e gestores como vem ocorrendo.

Psicologia Escolar na Internet - uma pesquisa de conteúdo

Quando criei este blog, fiz uma pesquisa para identificar sítios similares a este tanto em conteúdo quanto em proposta. Lancei o termo Psicologia Escolar e analisei o conteúdo de uns tantos endereços que foram identificados pela ferramenta de busca do Google. Percebi que havia um único sítio semelhante ao meu, ou seja, referente a exposição de experiência em Psicologia Escolar por parte de um profissional atuante na área.

Por crer na importância desta informação, no dia 13 de outubro de 2009 refiz a pesquisa utilizando dois termos desta vez: Psicologia Escolar e Educacional e Psicologia Escolar.

Usando como palavras de busca no Google Psicologia Escolar e Educacional obtive 318000 resultados compatíveis. A ferramenta de busca selecionou 540 por serem os demais bastante semelhantes. “Para mostrar os resultados mais relevantes, omitimos algumas entradas bastante semelhantes a 531 já exibidas.
Se quiser, você pode repetir a consulta, incluindo os resultados omitidos.”


Analisei os 100 primeiros sítios indicados dos quais:
60 são institucionais:
03 clínicas
10 ABRAPEE
01 ANPEPP (aviso sobre reunião do Grupo de Trabalho em Psicologia Escolar)
01 CRP (aviso sobre reunião do Grupo de Trabalho em Psicologia Escolar)
03 revistas da área
15 Cursos de Psicologia Escolar e Educacional (universidades, departamentos, especializações, graduação)
15 encontros de profissionais (congressos, simpósios, palestras)
05 CFP (informações sobre a prova de especialista em Psicologia Escolar e Educacional)
01 Gabarito da prova de especialista em Psicologia Escolar e Educacional de instituição não identificada
06 grupos de pesquisa ou laboratórios ligados a instituição de ensino superior

34 são referentes à produção acadêmica:
10 resumos (anais de congresso ou informativos sobre o assunto para leigos)
12 livros (aqui fazemos uma ressalva, pois alguns livros apresentam diversos sítios aparecendo cinco vezes em um dos casos)
12 artigos de revista

03 indicações de sítios ou livros da área

03 currículos de profissionais

Aqui indico como resultado mais importante não haver nenhum sítio de exposição de experiências em Psicologia Escolar e Educacional.

Continuando a pesquisa com o termo Psicologia Escolar no Google, foram relacionados aproximadamente 528.000 sítios e indicados 446 para análise por parte da própria ferramenta de pesquisa: “Para mostrar os resultados mais relevantes, omitimos algumas entradas bastante semelhantes a 444 já exibidas. Se quiser, você pode repetir a consulta, incluindo os resultados omitidos.”

Novamente analisei os 100 primeiros sítios disponibilizados.

49 institucionais
06 ofertas de empregos
02 ABRAPEE
01 revista
24 cursos (universidades, departamentos, especializações - 09, graduação)
06 serviços oferecidos em Psicologia Escolar
03 grupos de pesquisa e estudos (ligados a instituições de ensino superior)
05 encontros profissionais
02 concursos públicos

43 produção acadêmica
03 indicações de livros (livrarias, sítios de compras)
14 artigos de revista
01 resumo em anais de congresso
03 resumos ou relatórios (para disciplinas em curso de graduação)
15 livros (mais uma vez, alguns livros foram indicados diversas vezes)
07 resumos para leigos (textos de temas introdutórios)

01 imagem de Psicologia Escolar

01 pergunta no Yahoo Respostas

02 comunidades na internet

01 indicação para serviços em Psicologia Escolar

03 experiências profissionais em Psicologia Escolar (dois deles são referentes a este blog)

Dentre os sítios indicativos de livros selecionados pelo Google, minha análise mostra apenas sete livros não repetidos. O clássico livro organizado por Maria Helena Souza Patto não está entre eles. Os endereços para interessados/as:
http://www.guiademulher.com.br/ver_noticias.php?cid=livro-sobre-psicologia-escolar-1
http://br.gojaba.com/book/1779739/Psicologia-Escolar-Maria-Helena-Novaes
http://www.tradepar.com.br/detalhes/psicologia-escolar-etica-e-competencias-na-formacao-e-atuacao-profissional-8575160516-95.html
http://claisy-maria-marinho-araujo.comprar-livro.com.br/livros/1857516127/
http://www.livrariadafisica.com.br/detalhe_produto.aspx?id=85031
http://www.jacotei.com.br/psicologia-escolar-em-busca-de-novos-rumos-machado-adriana-marcondes-8585141816.html
http://www.amigosdolivro.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=5292

Indico também a seleção de artigos de revistas on-line. Neste caso, não cuidei das duplicidades. Além disso, não me responsabilizo pelas idéias contidas em cada artigo ou sítio aqui disponibilizados.
http://www.psicologiavirtual.com.br/psicologia/principal/conteudo.asp?id=3854
http://www.partes.com.br/ed33/emquestao.asp
http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932002000200002&lng=es&nrm=
http://books.google.com.br/books?id=c1G6dW1my0UC&pg=PA105&lpg=PA105&dq=Psicologia+EScolar&source=bl&ots=zmLayKuxiA&sig=0TyAw2MfAQuoH_G6ci9BxRkw-Dk&hl=pt-BR&ei=TpbUSpbnGIONuAewmKGJDQ&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=8&ved=0CCEQ6AEwBzgU#v=onepage&q=&f=false
http://www.revistavigor.com.br/2008/01/21/psicologia-e-psicologia-escolar-no-brasil/
http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=36573407
http://www.infocien.org/Interface/Colets/v1n05a06.pdf
http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=LILACS&lang=p&nextAction=lnk&exprSearch=525634&indexSearch=ID
http://www.alppsicologa.hpg.ig.com.br/PsicologoEscolarEducadorClinico.pdf
http://www.psicopedagogia.com.br/opiniao/opiniao.asp?entrID=572
http://sites.ffclrp.usp.br/paideia/artigos/28/07.htm
http://www.institutoagilita.com.br/imagens/Queixa%20escolar.pdf
http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=43282769

O objetivo desta pesquisa foi identificar as produções relativas a experiências vividas na atuação profissional fora da academia. Neste sentido, dentre os 200 sítios analisados, apenas dois preencheram os nossos critérios. Um deles é este. O outro também foi encontrado quando realizei a primeira pesquisa no dia 21 de abril de 2009. Como foi o único, não poderia me esquecer. O sítio é do psicólogo José Luiz Belas, que atua em Niterói – RJ. A experiência profissional dele é vasta com atuação em psicologia clínica (atendimento individual, grupal, casal, família), psicologia hospitalar, escolar, seleção, orientação de estágios em clínica. O objetivo de sua página é semelhante ao meu: compartilhar experiências de forma sistemática com outros profissionais e estudantes de psicologia. Seus textos são fundamentados sem pretensão de linguagem acadêmica.
http://www.jlbelas.psc.br/meustextos.php?var=meustextos&op=secao&id=15

Conforme disse inicialmente e a própria ferramenta de pesquisa indica, há repetições de conteúdo dentre as centenas de milhares de indicações encontradas em ambas pesquisas. Decidi não avançar na análise de todos os 446 sítios indicados em Psicologia Escolar porque encontramos muitas repetições nos 100 analisados, parecendo-nos desnecessário e improdutivo.

Considerei também digno de nota a variação encontrada entre as duas pesquisas. Em Psicologia Escolar e Educacional ,94 sítios foram institucionais e acadêmicos, tendo seis páginas fora dessas categorizações. Na pesquisa com o termo Psicologia Escolar houve maior variação de subtemas dificultando a restrição de categorias: 92 sítios categorizados em instituições ou produção acadêmica; 8 páginas classificadas em cinco grupos bem díspares em conteúdo. Relaciono esta pequena diferença à valorização do termo Psicologia Escolar em detrimento do Educacional. Além disso, a diferença no número de sítios selecionados pela ferramenta de pesquisa indica o englobamento de uma pesquisa sobre a outra, neste caso a Psicologia Escolar supera a Psicologia Escolar e Educacional, abarcando-a. Talvez o termo menor esteja se fortalecendo pelo uso.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Redes Interinstitucionais

Em meu trabalho como psicóloga de escola, durante as entrevistas com os pais, percebia necessidades que eu não poderia sanar. Limitações no trabalho com os alunos também me angustiaram desde o início de minha experiência laboral. Comecei a perceber que sozinha não conseguiria resolver as questões que detectava.

Cursos, palestras, supervisões, reuniões, conversas me mostraram que há vários serviços disponíveis que podemos usar e encaminhar pessoas. O nome deste conjunto de contatos é rede. Este conceito é equivalente ao de rede social. A rede social é composta por pessoas que convivem conosco. Já escrevi sobre isto neste blog (Redes Sociais) e apresentei suas características.

Desconheço qual é o nome oficial desta rede profissional, mas aqui usaremos o nome rede interinstitucional.

O governo federal instituiu o Programa Saúde nas Escolas (PSE) que não é uma parceria, mas uma ligação efetiva dos trabalhos de duas áreas do poder executivo: saúde e educação. A educação é chamada porque todas as crianças do país devem, obrigatoriamente, estar na escola sob pena de responsabilidade dos pais. O trabalho preventivo da saúde não consegue atrair as pessoas, então as duas áreas se complementam.

Este programa está sendo implementado em várias cidades do país e no Distrito Federal há escolas que iniciam sua implantação como projeto piloto. Para saber mais sobre o Programa Saúde na Escola (PSE) acesse:
http://dtr2004.saude.gov.br/dab/programa_saude_na_escola.php

Ainda no setor de saúde, a nível federal temos os Centros de Atenção Psicossocial com atuação e gestão municipal. Os CAPS são centros de atendimento em saúde mental substitutivos de hospitais psiquiátricos. São uma resposta à reforma psiquiátrica fruto da luta antimanicomial. Há centros com foco em dependência química, denominados CAPS-AD (álcool e outras drogas). Para detalhes:
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=29797&janela=1

Na área de Assistência Social temos um programa governamental em adiantado estágio de implantação, mas talvez de pouco conhecimento, em todo o território nacional. A política de Assistência Social brasileira se faz em três níveis: básica, de média complexidade e de alta complexidade.

No nível básico, são realizadas ações preventivas para indivíduos ou famílias que se encontrem em vulnerabilidade ou em risco social. As ações têm como fonte o Centro de Referencia de Assistência Social (CRAS). As adaptações são feitas pelos profissionais de cada CRAS de acordo com a necessidade de cada comunidade. Mais informações, favor acessar:
http://www.mds.gov.br/programas/rede-suas/protecao-social-basica/paif

No nível de média complexidade, as ações envolvem casos em que já ocorreram violações de direitos como violência física, moral, sexual; abandono ou ameaça, trabalho infantil, entre outras. Neste nível, as pessoas que tiveram seus direitos violados ainda contam com vínculos familiares preservados. Em geral, os casos de crianças e adolescentes são levados ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) pelos Conselhos Tutelares. Outras informações, acesse:
http://www.mds.gov.br/programas/rede-suas/protecao-social-especial/centros-de-referencia-especializados-de-assistencia-social-servicos-de-protecao-social-especial-a-familia-pessoa-idosa-crianca-adolescente-e-pessoa-com-deficiencia/centros-de-referencia-especializado-da-assistencia-social-2013-creas-familias-e-individuos

A Assistência Social de alta complexidade é realizada por abrigos e albergues quando os vínculos familiares foram rompidos ou a família se mostra fonte do desrespeito aos direitos.

O já citado Conselho Tutelar é o núcleo de encaminhamentos de questões que envolvem violações de direitos de crianças e adolescentes. São formados por cidadãos pertencentes à comunidade que representam e são votados por ela conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Os Conselhos Tutelares funcionam realmente e as comunidades que tenho servido temem sua ação devido a sua atuação incisiva e eficaz.

Na área esportiva temos o Programa Segundo Tempo em fase de implantação. Objetiva estimular a prática de esportes por parte das novas gerações no turno contrário à freqüência escolar. Seu público alvo são crianças e adolescentes em risco social. Infelizmente, não foi possível acessar o Ministério do Esporte diretamente. O sitio sugerido traz um resumo do que podemos esperar deste programa federal:
http://www.sempretops.com/destaques/programa-segundo-tempo-ministerio-do-esporte/

O Ministério da Cultura, desde 2007, estimula iniciativas de ações culturais locais através dos Pontos de Cultura. Grupos formados na comunidade com objetivos culturais e sem fins lucrativos recebem benefícios de modo a se fortalecerem e realizarem suas atividades com apoio financeiro. Para saber o que são e como funcionam os Pontos de Cultura, sugiro este sitio da Secretaria de Cultura do Mato Grosso:
http://www.cultura.gov.br/site/2009/06/14/edital-de-selecao-de-pontos-de-cultura-em-mato-grosso/
e do Distrito Federal:
http://www.sc.df.gov.br/?sessao=materia&idMateria=7&titulo=DF-GANHARA-21-PONTOS-DE-CULTURA

Estes são exemplos de entidades e programas governamentais que podem auxiliar o trabalho que realizamos com nossos alunos na escola. Dependendo de cada caso, os pequenos podem se beneficiar com uma aula de música, esportes, teatro, serviços de saúde; suas famílias podem ser acompanhadas em grupos terapêuticos; seus pais encaminhados a setores de atendimento em saúde mental ou grupos de Alcoólicos Anônimos (AA ou AlAnon, para familiares) ou Narcóticos Anônimos; grupos de geração de renda; atendimentos psicoterápicos.

Além desses serviços disponibilizados pelo governo municipal, estadual e distrital (no nosso caso aqui em Brasília), ligações pessoais entre profissionais podem ser feitos durante nossa participação em cursos, palestras ou encontros casuais durante nossa vida social. Tenho o costume de solicitar telefones para amigos antigos e novos que demonstram potencial auxílio em meu trabalho. Em geral sou bem compreendida quando ajo desta forma e, principalmente, quando aciono as pessoas para atuar junto às crianças e suas famílias.

As leis são muitas e as formas de atendimento nos setores públicos e privados mudam muito. Quando conhecemos alguém no lugar certo, muitas dificuldades são ultrapassadas devido ao acesso a informações úteis, frescas e, principalmente, corretas. Deixo claro que os atendimentos não são privilegiados, mas objetivos já que, encaminhando para setores corretos, não perdemos tempo precioso e, dependendo do caso, evitamos traumas ou agravos.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

2000

Comemoro hoje 2000 acessos!
Sinto-me imensamente feliz em poder oferecer minhas idéias e saber que tenho contribuindo com o trabalho e/ou estudo de colegas, futuros colegas psicólogo/as, colegas educadore/as, curioso/as e amigo/as.
O que mais me impressiona é a dimensão que este instrumento de comunicação nos proporciona. Comemorei 1000 acessos em agosto e agora, no início de outubro, dia 06, passo da contagem de 2000 acessos.
Agradeço aos visitantes por tornarem este blog útil.
Esta contagem aumenta a minha motivação em escrever e compartilhar minhas sistematizações.
Tenho tido retornos fantásticos a respeito do conteúdo, mas principalmente pelo estilo de escrita.
Agradeço aos estímulos que amiga/as e profissionais têm oferecido a este trabalho.
Estou cada vez mais fortalecida no propósito de expor idéias que considero úteis à área de Psicologia Escolar.
Agradeço imensamente às/aos leitoras/es que divulgam nosso blog e fazem dele um instrumento de conhecimento coletivo.
Por favor, fiquem a vontade para criticar, discutir, expor suas idéias também através dos comentários.

domingo, 27 de setembro de 2009

Um caso de indisciplina grave

Como disse na última postagem, há alunos que apresentam comportamentos persistentes de indisciplina. Exponho agora um caso bastante controverso que atendi que é exemplo disto.

L. era um aluno plurirepetente da 5ª série. Sua constituição física já estava completa quando o conheci, devia ter uns 170 cm de altura. Não demonstrava interesse por namoro e brincava com os colegas no mesmo nível. Isto causava muitos problemas porque era visivelmente bem mais forte que os outros.

As professoras se queixavam de que L. não as respeitava, brincava em aula o tempo todo, batia nos colegas durante as aulas e também fora delas, não assumia seus próprios atos.

Soube que o aluno seria transferido. Como eu havia chegado há pouco tempo na escola, interessei-me quando o processo do aluno já se mostrava bem avançado. Conversei com as instâncias superiores e mostrei que os recursos da escola não estavam esgotados porque o caso não tinha passado por mim ainda. Interpretei o sentimento de desconfiança na expressão facial do meu diretor, mas ele aceitou a minha proposta.

Convoquei a mãe para iniciar atendimento psicopedagógico imediatamente. Ela informou que a família impunha limites claros ao filho, ele contava com responsabilidades perante a organização e limpeza da casa e auxiliava no trabalho do pai. Não havia, entretanto, horário para o estudo e nosso aluno era constantemente comparado com o filho mais novo que, segunda a mãe, tinha comportamento exemplar como o mais velho, e que já estava alcançando L. na escola.

Fui exigente com a mãe, estabelecemos algumas regras relacionadas ao estudo, alertei sobre os riscos das comparações e mostrei que eu era a responsável pela permanência do filho naquela escola e, portanto, caso L. fizesse qualquer coisa grave e inaceitável pela escola, todos os outros profissionais viriam sobre mim. Penso que a mãe compreendeu bem a situação e mostrou-se bem agradecida. Era uma senhora consciente dos direitos do filho e lutava firmemente por eles. Bastante cansada de lidar com as travessuras infantis de L., a mãe preocupava-se com uma quarta reprovação e provável evasão escolar.

Começamos a trabalhar no dia seguinte. Meu esquema de atendimento é semanal e grupal. Porém, este era um caso de urgência, eu precisava de resultados rápidos. Além disso, o aluno só poderia comparecer em um determinado horário que casava com o meu e que não havia outro aluno. Assim, delineamos atendimento duas vezes por semana e individualmente.

Na primeira sessão, pude constatar a principal queixa das professoras – L. não se responsabilizava pelos próprios atos, mesmo que eu visse seu movimento e estando apenas nós dois na sala. Mostrei-lhe isto e indiquei as implicações, como este comportamento atrapalhava seu rendimento em sala, que impactos teria em sua vida como adulto, os riscos que estava correndo agindo daquela maneira. Observei também sua inteligência, sua motivação em continuar na escola, sua vontade em aderir ao trabalho proposto por mim, sua inconsciência a respeito de suas ações e possibilidades de atuação sobre a opressora realidade que enfrentava. Percebi que o aluno possuía recursos para ter êxito no meu tratamento e na série. Na primeira sessão, usei um jogo de regras complexas e L. compreendeu-as e usou-as adequadamente, mas com bastante ingenuidade. Na segunda sessão mostrei a ele os recursos que dispunha para ultrapassar seus problemas. Jogamos xadrez (que ele havia aprendido na escola anterior) e fui mostrando para ele como concentrar-se, articular ações, usar as regras do jogo em benefício próprio. L. apresentou claramente neste dia, uma falta de atenção que o prejudicava também. Na terceira sessão, utilizamos novamente o xadrez e trabalhamos sua falta de atenção e como eu também era prejudicada pela minha deficiência de foco. Mostrei erros que nós dois cometíamos e assim, apresentei a ele o mundo real no qual todos somos frágeis e como devemos identificar e modificar comportamentos que nos são prejudiciais.

Os atendimentos foram seguindo com tranqüilidade, a mãe se mostrava satisfeita e após duas semanas informou-me que L. não precisava mais que lhe indicassem o momento de realizar suas tarefas em casa. Ele atualizou todos os cadernos que estavam disfuncionais e passou a fazer as tarefas que as professoras pediam. Passei a não ouvir mais seu nome nas reuniões ou nos momentos de intervalos das professoras.

Meu momento de pedir retorno sobre este atendimento estava chegando com o fim do bimestre e seu conselho de classe. Costumo participar dele e pontuar ações minhas com os alunos enquanto as professoras fazem suas avaliações coletivas de cada aluno. Porém, antes da discussão chegar à turma de L., fui convocada para compor outra reunião realizada em paralelo na escola. Desta forma, perdi a avaliação do meu trabalho com L. Por falha minha, não consegui resgatá-la posteriormente.

Aquela reunião para a qual fui convocada estabeleceu obrigatoriamente que eu fizesse um curso justamente no meu dia de atendimento psicopedagógico. Como o comportamento de L. já estava se adequando ao contexto escolar e ele mostrava aproveitamento e rendimento, eu havia reduzido seu tratamento para uma vez por semana. Devido a um feriado, um problema de saúde meu e o tempo de organização do horário do meu curso levei um mês sem atender L.

Três dias antes de retomarmos os atendimentos, L. cometeu uma falha grave. Demonstrou um comportamento inaceitável com uma aluna de sua sala. As professoras ouvidas indicaram que ele estava alterado naquela semana e que elas tentaram resolver as situações em sala de aula, porém a última ultrapassou em muito o aceitável pela escola. Todas as professoras ouvidas disseram que L. começou o ano muito mal, com comportamento péssimo e que, por algum milagre (sic) que não sabiam qual era, ele havia melhorado muito, mas que agora estava voltando ao comportamento anterior.

Exponho este relato para mostrar a força do nosso trabalho na escola. Mesmo com ações clínicas sendo altamente criticadas pelas teóricas da nossa área, elas surtem efeito curativo necessário para alguns alunos. A relação de L. com as professoras e colegas de turma foi totalmente restaurado, sem mudança de personalidade. L. continuava brincando com os colegas de modo saudável, tendo cuidado para não machucá-los devido a sua constituição física e nos momentos em que poderia fazê-lo. Passou a ter mais consciência dos próprios atos e controlar seu comportamento. Este último é o sempre o meu objetivo nos atendimentos.

Alerto veementemente para que mostremos para a comunidade escolar nossos êxitos e participações em soluções, pois somente se falarmos claramente sobre nossa ação as pessoas a perceberão.

Dinâmica laboral de uma escola

Ações de profissionais da escola são moduladas por questões como período do ano, aluno com persistente comportamento característico de indisciplina, nível de descontrole comportamental coletiva nas turmas, quantidade de turmas agitadas na escola, competência de atuação da direção da escola, políticas governamentais, nível de influência parental sobre decisões laborais, nível de agressividade da comunidade escolar, clima organizacional, quantidade e qualidade de apoio laboral.

Dentre todas estas questões, algumas são típicas da escola e destas a que merece menção especial por não ser clara é a referente à sazonalidade – o primeiro item da nossa lista acima. A dinâmica de trabalho em uma escola é bastante agitada e se intensifica conforme o ano passa. A falta de evolução de alguns alunos, as brincadeiras conflituosas intraclasses (as denominadas bagunças) que aumentam conforme os laços relacionais dos alunos se consolidam, o impacto do clima sobre a saúde geral (em Brasília, agosto e setembro são meses de seca e índices de umidade relativo do ar muito baixos), o acúmulo do cansaço dos meses anteriores são fatores prejudicadores do bom desempenho das professoras.

Esta dinâmica de eventos só pode ser observada por quem está dentro deste sistema. Um exemplo é a agitação que toma conta de uma escola quando se aproxima o momento das reuniões de conselho de classe. Há uma série de atividades que mostram a previsibilidade disto. As professoras planejam, no início do ano, módulos de aprendizagem com auxílio dos livros didáticos e dos Parâmetros Curriculares Nacionais. A cada bimestre há uma programação a cumprir e várias atividades da escola concorrem com ela, às vezes beneficiando seu andamento, às vezes interrompendo-o, dificultando-o e mesmo impedindo-o. O nosso atendimento aos alunos é uma dessas atividades, assim como passeios culturais ou de lazer, eventos cívico-culturais da escola, o comportamento coletivo da turma.

O final do bimestre é a culminância de uma série de atividades que o professor desenvolve em sala de aula. O não cumprimento do planejamento bimestral da docente gera-lhe angústia. Os momentos de avaliação deixam as turmas ansiosas. A sistematização das avaliações elaboradas durante o bimestre e sua compilação devem ser realizadas antes da reunião do conselho de classe.

O preenchimento do documento escolar mais importante também gera sofrimento para as professoras. O diário escolar causa arrepios se as regras não estiverem totalmente claras e disponíveis. Este documento pertence ao Ministério da Educação e seu correto preenchimento é exigência deste órgão. Não é permitido qualquer tipo de rasura e ele é o comprovante de freqüência dos alunos, dos conteúdos aplicados, que os temas transversais estão sendo utilizados, que o profissional trabalhou conforme as políticas referentes ao nível educacional em questão. Há muitas e complexas informações neste documento. Todas as pequenas vidas têm sua evolução anual transcritas para o papel no formato do diário escolar. As secretarias de cada escola são responsáveis pelo correto preenchimento e arquivamento deles e exigem que as docentes façam sua parte com perfeição pois os profissionais da escola serão responsabilizados legalmente caso algo saia errado, cada qual em seu âmbito de atuação.

Durante o conselho de classe grande parte dos dados do diário de classe já está preenchida e nele ocorre a finalização das anotações de cada bimestre. Os diários não podem sair das escolas posto serem documentos ministeriais oficiais. Assim, as professoras despendem horas de trabalho para correção de avaliações, sistematizações, preenchimento de diário além das aulas e de seus necessários planejamentos.

Tudo isto faz com que haja uma tensão aos finais de bimestre. O trabalho do psicólogo escolar deve ser sensível a queixas durante esta época, relevando possíveis exageros, mas não deixando de verificar a necessidade de atendimento. Cuidado também deve haver nas intervenções individuais e coletivas, pois há uma maior quantidade de avaliações neste período e uma interrupção neste momento pode ser altamente prejudicial para o aluno ou turma. O momento de saída de um aluno ou intervenção coletiva deve sempre ser cuidadoso e permitido pela profissional regente, mas intensifica-se neste tempo.

É necessário usarmos nossos conhecimentos de psicologia organizacional para diminuirmos as tensões típicas sazonais de modo a oferecer maior segurança e saúde às profissionais que atendemos reduzindo também o impacto destas tensões sobre o comportamento e o aprendizado dos pequenos. Devemos respeitar o movimento da escola, suas tensões e ritmos; devemos estar atentos/as para que nossa atuação tenha mais chances de êxito e sejam de fato aproveitadas pela instituição e seus entes.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Desenvolvendo Habilidades Sociais em Adolescentes

É comum em nosso país a crença de que o Brasil não produz conhecimento. Crença equivocada e preconceituosa, que indica o ainda prevalente europocentrismo com “pitadas” de americanismo. A produção de conhecimento no Brasil é constante, forte e invejável. Outro problema mostra-se grave e talvez seja o causador da continuidade do pensamento equivocado supracitado. Esse refere-se à dificuldade de publicação já que nesta fase é que são conhecidas as produções, mesmo depois se saber que há algo acontecendo. É através de textos científicos que o reconhecimento do que foi realizado ocorre. Sem publicação nada existe de fato.

Acredito que as dificuldades que o português, enquanto língua, carrega e a cultura brasileira que supervaloriza o texto falado sejam coresponsáveis pelas dificuldades em publicar trabalhos científicos.

Sheila G. Murta ultrapassa essa suposta dificuldade e demonstra o quanto está implicada em fazer conhecer o trabalho que desenvolve e no qual acredita.
Seu livro Programa de Habilidades de Vida para Adolescentes: um manual para aplicação é um documento que os profissionais de prevenção dispõem para pronto uso. A introdução e segundo capítulo intitulado O processo de implementação do programa: cuidando para o programa dar certo apresentam a população que pode ser beneficiada pela proposta, os doenças e/ou transtornos que podem ser prevenidos e tratados através da aplicação, a justificativa para se trabalhar as habilidades de vida com adolescentes e jovens, o cuidado que o profissional deve ter para realizar o programa com efetividade e baixa frustração.

Com objetivo de expandir o conhecimento e presentear as pessoas que trabalham com jovens, a autora baseia sua proposta na Psicologia Positiva, na Teoria da Aprendizagem Social e no conceito de resiliência.

Um dos destaques que podemos aqui fazer é a lista de “habilidades sociais educativas” que o facilitador deve ter para obter sucesso na empreitada proposta. A lista não é simples, mas explicada ponto a ponto mostrando o que significa cada item e porque ele é importante para a realização do trabalho.

O livro de Murta apresenta um total de dezesseis encontros pormenorizadamente preparados para aplicação nos quais se trabalha habilidades sociais como identificação de habilidades pessoais; conscientização de auto-críticas; assertividade; uso dos próprios recursos para solução de problemas reais; administração de estresse; escuta empática; fazer amizades.

A Psicologia Preventiva nos ensina que habilidades sociais e redes sociais são elementos promotores de saúde psíquica e física que provocam a saúde social. Ao pensarmos nas comunidades carentes que se encontram fragilizadas pelos mais diversos motivos, este manual proposto por Murta pode ser considerado como um instrumento promotor de saúde comunitária (ou grupal) já que promove o ensino e treino de habilidades sociais que poderão formar redes sociais efetivas.

O livro tem como segundo subtítulo um resumo de seu conteúdo. Nele é possível perceber a abrangência de possíveis aplicadores, contextos, níveis sociais e efeitos benéficos:
“Um livro para profissionais de saúde, educação e assistência social usarem na comunidade para prevenir problemas emocionais e comportamentais entre adolescentes.”

A psicóloga Sheila Murta apresenta nesta obra sua face prática. É exemplo de profissional que publica pelo benefício que pode trazer a comunidade acadêmica e profissional prática, tendo em vista que a publicação é uma fase da pesquisa científica. Também é uma amostra de que a crença na baixa produção científica brasileira deve ser colocada de lado.

Murta, S.G. (2008). Programa de Habilidades de Vida para Adolescentes: um Manual para Aplicação. Goiânia: Porã Cultural.

sábado, 19 de setembro de 2009

O afeto como vacina anti-drogas

A recuperação de um dependente químico é longo e intenso nas palavras de Maria de Fátima R. Padin, Psicóloga e Coordenadora do Ambulatório de Adolescentes do UNIAD/UNIFESP. Padin apresentou o funcionamento do ambulatório em um workshop promovido pelo Adolescentro – Centro de Referência, Pesquisa, Capacitação e Atenção ao Adolescente em Família (Secretaria de Estado de Saúde – DF).

Padin fez questão de mostrar as dificuldades do processo de recuperação e salientou que não há ex-dependente químico, mas dependente em recuperação. As possibilidades de recaída são reais e devem ser monitoradas constantemente. No início da abstinência isto mostra-se com bastante agudeza1.

Ao final do workshop, todos nós questionávamos os custos do tratamento oferecido pelo Ambulatório da UNIAD. Quando finalmente alguém expôs a pergunta, Padin respondeu estar em torno de R$ 250,00... por dia. Ela informa que é difícil dizer o valor do tratamento pois há muitas avaliações em questão e a quantidade de especialistas envolvidos é proporcional aos danos provocados. Assim, quanto mais necessidade de tratamento maior o custo dele posto que diversos exames e terapêuticas serão oferecidas ao dependente químico em recuperação.
"O custo do tratamento sempre depende da avaliação. Que deve ser feita por equipe multidisciplinar (psicólogos-psicodiagnóstico e avaliação da gravidade da Dependência / psiquiatra- verificar comorbidades psiquiatricas/ pedagogas: avaliação acadêmica/ neuropsicólogas: investigação do funcionamento cerebral e avaliação clínica-hebiatra) Somente apos essa avaliação traçamos o plano de tratamento."
(Padin, em comunicação pessoal)
Alguns pacientes contam ainda com Acompanhantes Terapêuticos além do custo com o tratamento no ambulatório.

O incômodo que espero ter provocado nas/nos leitoras/es refere-se ao valor da prevenção. Os custos do tratamento foram até agora apresentados somente sob seu ângulo financeiro. E neste ponto o custo da prevenção que evita os danos causados pelo vício são ínfimos. Devemos contabilizar ainda os custos emocionais, afetivos, relacionais, familiares, laborais, patrimoniais, educacionais, orgânicos que a dependência química provoca. O impacto de um problema como esse em uma família é devastador conforme Padin nos relatou. A UNIAD conduz uma pesquisa nacional sobre esses impactos.

O esforço despendido para recuperação é imenso e envolve o próprio dependente, seus familiares, seu/sua companheiro/a e amigos/as.

Mais simples, muito mais barato e mais eficaz é o trabalho preventivo.

Como espaço privilegiado para a prevenção, a escola mostra-se mais uma vez como instituição de ponta para a realização deste trabalho. E nós, psicólogas/os escolares, somos as principais atrizes deste tipo de prevenção juntamente com as orientadoras educacionais.

É justo esclarecer que palestras sobre os perigos que as drogas trazem não são o bastante para evitar o uso, o consumo e o abuso de substâncias psicoativas. A iniciação às drogas acontece geralmente no ambiente familiar pelas mãos dos próprios pais e através do álcool.

Por este motivo, a orientação das famílias quanto a comportamentos, relacionamentos e eventos propícios ao estabelecimento de vício é essencial. Trabalhar a família particular ou coletivamente é necessário como prevenção efetiva. Dentro desta orientação deve haver informação sobre as substâncias psicoativas e sintomas do uso2; ensino de trocas afetivas não erotizadas3; comunicação efetiva com base na confiabilidade; estabelecimento e manutenção de momento compartilhado de ações; fortalecimento da família quanto ao seu papel educativo e afetivo3.

Esclarecemos que as famílias estão perdidas quanto à forma de educar seus filhos. Demonstram consciência de que o castigo físico não é adequado, porém não sabem estabelecer limites e restrições que demarquem a importância e a seriedade das regras. Conhecem o poder do Conselho Tutelar, respeitam sua ação e buscam-na para atuar junto às crianças. Eu, pessoalmente, sou procurada pelos pais que se sentem perdidos na educação dos pequenos. Neste contexto, nossa atuação dentro das escolas mostra-se essencialmente preventiva e, em alguns momentos, emergencial curativa.

O ensino da afetividade na comunicação e no contato físico intrafamiliar é básico para a prevenção do consumo de substâncias psicoativas e da busca de relacionamentos afetivos prejudiciais. A idéia é que se a criança e o adolescente têm sanadas suas necessidades afetivas, não procurará fora do lar relações que a satisfaçam. Principalmente, se há falha em algum sentido, a comunicação intrafamiliar não pode faltar. A/o psicóloga/o como agente de relações humanas privilegiado deve se colocar na posição de resgatar a comunicação e confiabilidade familiar. Aprofundamento neste sentido pode ser obtido em Bezerra & Linhares (2003).

E para os casos em que a família se nega a receber atendimento, o Conselho Tutelar deverá ser acionado. Nossa parceria com o CT costuma ser bem sucedida.

A política pública preventiva brasileira chega a ser ridícula. Leis que vinculem o funcionamento das escolas à presença do psicólogo escolar propiciarão uma queda nos custos do resgate dos consumidores de drogas, por exemplo. Trazemos neste espaço, os benefícios que representamos ao contexto escolar. Precisamos pressionar o poder público, não por corporativismo, mas como fator de saúde pública.

1.http://www.uniad.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=577&Itemid=155 III Semana do Adolescentro, em 19 de setembro de 2009.

2. Nicastri, S. (2003). Drogas: classificação e efeitos no organismo. Em: Secretaria de Estado de Saúde do DF. Adolescentes. Pensando Juntos. Manual do Facilitador.

3. Bezerra, V.C. & Linhares, A.C.B. (2003). A família, o adolescente e o uso de drogas. Em: Secretaria de Estado de Saúde do DF. Adolescentes. Pensando Juntos. Manual do Facilitador.

sábado, 5 de setembro de 2009

Redes Sociais

O estudo das redes sociais apresentou-me conhecimentos que os leigos intuem e que são extremamente importantes para a saúde mental. Com redes sociais queremos dizer que:

“as fronteiras do sistema significativo do indivíduo não se limitam à família nuclear ou extensa, mas incluem todo o conjunto de vínculos interpessoais do sujeito: família, amigos, relações de trabalho, de estudo, de inserção comunitária e de práticas sociais.” (p. 37)

Em Psicologia Ambiental estudamos planejamento urbano e, no escopo deste, a segurança. A principal informação que esta área da ciência traz é que uma rua é segura quando está sendo usada pelas pessoas e não quando há policiais fazendo-lhe a ronda. Assim, as pessoas na rua, ocupando-a, usando o espaço público é que efetivamente instala a segurança em um local, não sendo apenas uma sensação.

De maneira similar, quanto mais pessoas em nossas vidas, mais estamos seguros pessoal, social e psicologicamente. Para isso, precisamos nos fazer presentes nas vidas das pessoas e mostrar-lhes o quanto poderemos fazer falta. A busca mútua entre as pessoas parece ser uma vacina para nossa atual “histeria”: a depressão.

A compreensão de que cada pessoa pode atuar em funções diferentes também é bastante útil para não sobrecarregarmos as expectativas que temos. Nós e os outros nos colocamos em posições tais que devem ser respeitadas e utilizadas com cuidado. Esperar que uma pessoa atue de forma diferenciada que aquela que costuma atuar pode gerar frustração, desentendimentos desnecessários e rupturas. Na verdade, tal atitude pode ser reajustada quando se compreende os diferentes papéis que as pessoas têm nas nossas vidas, e que aquele comportamento inesperado não indica desinteresse.

As redes sociais têm como características estruturais:
Tamanho – números de pessoas na rede;
Densidade – conexão entre membros independentes do informante;
Distribuição – quantidade de indivíduos em cada grupo em estudo (família, amigos, comunidade, escola, trabalho, grupos desportistas – observadas as características de cada cliente);
Dispersão – distância entre os elementos da rede;
homo/heterogeneidade – diferenças etárias e sócio-culturais entre os componentes da rede.1

Os elementos da rede social podem ter diversas funções. Estas por sua vez podem ser exclusivas ou associadas. As funções são:
companhia social;
apoio social;
apoio emocional;
guia cognitivo e conselhos;
regulação social;
ajuda material e de serviços;
acesso a novos contatos.

Uma pessoa pode ser companhia social (acompanha a festas) e apoio emocional (nos casos em que há crises, o amigo mostra-se presente). Uma amiga pode ser apenas guia cognitiva e de conselhos, mas não ser boa em ajuda material devido a sua estrutura familiar super exigente e a falta de tempo.

Características e funções da rede social de um cliente (aluno, professor, pai de aluno, diretor da escola, auxiliar de serviços gerais) podem ser analisadas objetivando detectar melhores adaptações, explorações e ajustes para ultrapassar dificuldades psicológicas. A possibilidade de usar estas informações torna-se um importante instrumento clínico.

Solicito que busquem mais informações em

Sluzki, C.E. (1997). A rede social: proposições gerais. Em: C.E. Sluzki. A rede social na prática sistêmica: alternativas terapêuticas. São Paulo: Casa do Psicólogo.

posto que este nosso texto traz apenas um aperitivo do que realmente se conhece e instrumentaliza de redes sociais. Como sempre, trago para os leitores deste blog novidades para mim que considero úteis para os psicólogos escolares.

domingo, 30 de agosto de 2009

Dificuldades de publicação e conhecimentos insabidos

A partir de algumas leituras e do nosso objetivo primeiro em criar este blog faz-se cada vez mais clara a necessidade que temos de produção científica e quais são as principais dificuldades para tal em nosso país.

Em primeiro lugar percebo a dificuldade que o idioma português impõe perceptível inclusive em nível oral. De modo particular a produção científica se faz a partir da experiência de professores universitários e não de profissionais da área. Este último corpo de profissionais tem em sua vivência diária a necessidade de resolver os problemas que surgem da realidade, de questões emergentes e que urgem solução. Desta situação surgem dois problemas que por isto mesmo são interligados: a literatura científica mostra-se deficitária para o profissional fim, posto a distância entre a realidade e o elaborador da teoria. A segunda questão é a desorganização ou não prioridade de tempo para publicar as experiências pelos profissionais em atuação fora da universidade. Há também, e é bastante impactante, a dificuldade que surge ao se publicar com termos científicos. As regras mudam de modo que os práticos não os acompanham e seus artigos, quando escritos, são barrados pelos editores de revistas.

Em psicologia escolar isto me parece bastante verdadeiro e pungente porque psicólogos são seres solitários em sua atuação. Muitas vezes não percebem que executam um bom trabalho e que ele pode auxiliar colegas. Quando buscam ajuda na literatura especializada não encontram respostas, mas cobranças e indicações que não casam com suas questões.

Muitas questões que tenho na minha atuação estão sendo respondidas na Psicologia Preventiva. Alerto para o fato de que em minha postagem Conhecimentos de Psicologia usados em Psicologia Escolar esta área do conhecimento sequer foi citada, dada a minha ignorância pela referida seção. Não tenho nenhum receio em informar como tomei conhecimento desta grande falha em minha formação profissional principalmente porque ela ainda se mostra claramente na academia. Busquei conhecimentos de Psicologia Comunitária na minha instituição de origem, a Universidade de Brasília. É justo acrescentar que nosso curso é indicado como um dos melhores do país por seguidos anos. Como não havia oferta deste curso resolvi me inscrever em outro em que minha formação também falhara: Psicologia Preventiva e Higiene Mental. Esta matéria existe no currículo desde antes da minha formação, mas pouco valorizada, não me lembro de ter sido oferecida enquanto eu lá estudava.

Pois está sendo uma grata surpresa que os conhecimentos de que necessito em minha atuação na escola estão sendo respondidos e minhas atuações sem respaldo estão sendo embasadas cientificamente com grande êxito.

Aqui faço meu apelo para as/os profissionais da nossa área buscarem informações de Psicologia Preventiva. Talvez encontrem respostas úteis mais do que nos livros de Psicologia Escolar. Também indico para as professoras de Psicologia Escolar que incluam leituras desta área em seus cursos para alertar os futuros profissionais sobre auxílios bem-vindos e frutíferos.

Como ainda estou estudando, não me permito escrever sobre a área ainda. Mas este blog ainda será recheado com conhecimentos de Psicologia Preventiva. Enquanto me preparo, não poderia deixar de me furtar à informação principal: a de que o conhecimento existe e está disponível sob um nome no mínimo suspeito.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Parabéns para Psicólogas e Psicólogos

Comemoramos, no dia 27 de agosto, o dia do Psicólogo.
Recebi esta parabenização e compartilho com os leitores deste blog, psicólogos ou não.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Homofobia na escola

A questão de gênero em psicologia ultrapassou os estudos das relações homem-mulher e chega agora às relações afetivas em geral e são tratadas por homofobia. Esta última trata de questões que abarcam gênero e vai bem mais além. Segundo Daniel Borillo,

“A divisão dos gêneros e o desejo (hetero)sexual funcionam mais como um mecanismo de reprodução da ordem social que como um mecanismo de reprodução biológica da espécie. A homofobia torna-se, assim, uma guardiã das fronteiras sexuais (hetero/homo) e de gênero (masculino/feminino). É por essa razão que os homossexuais não são mais as únicas vítimas da violência homofóbica, que se dirige também a todos os que não aderem à ordem clássica dos gêneros: travestis, transexuais, bissexuais, mulheres heterossexuais que têm personalidade forte, homens heterossexuais delicados ou que manifestem grande sensibilidade.” (p.18)

Motivada pela presença de um aluno declaradamente homossexual na escola, busquei estudar este fenômeno e fui agraciada com um ciclo de palestras na Universidade de Brasília, do qual recebemos o livro “Homofobia & Educação: um desafio ao silêncio” organizado por Tatiana Lionço e Debora Diniz do qual retiramos o trecho acima.

Um dos textos do livro indica a dificuldade pela qual passa um homem em encarar a feminilidade de outro, por quais motivos um homem se sente ofendido ao ser cortejado por outro. Daí a necessidade de agressão física para mostrar ao homem mais feminino como deve se comportar. Informa que hoje, em nosso país, ocorre uma morte por este motivo a cada três dias.

Tivemos uma ação nestes moldes em nossa escola quando um grupo de garotos correu atrás do menino com orientação sexual homossexual. Não conseguimos descobrir o que eles fariam se pegassem o menino porque ouve um acidente durante a correria e o motivo dela ficou desprezado. Há dificuldade dos profissionais da escola em tratar o assunto, inclusive entre si mesmos, chegando ao ponto de constrangimentos ao se referirem ao aluno.

Minhas leituras chegaram a uma conclusão simples: a negação da vivência do prazer pela sociedade. É-nos proibida qualquer manifestação de afeto diferente das padronizadas. Homem forte, másculo e provedor. Mulher frágil, suave, submissa e dependente. Mesmo tendo nossos espaços garantidos no mercado de trabalho, vários são as ocorrências que apresentam a valorização da superioridade masculina. A principal para mim é a desvalorização das profissões ditas femininas – as profissões do cuidado. São atuações de segunda classe e têm remuneração diminuída.

Estamos longe da igualdade. Precisamos ainda nos policiar para não repetirmos os padrões que lutamos para substituir ou destruir. Temos na escola um local privilegiado para oferecer novas formas de pensar e agir a afetividade, mas primeiro é necessário vencer o grande preconceito que circunda as questões do afeto. Lionço & Diniz denunciam o grande força que o status quo tem nas instituições educacionais: o silêncio. Percebo-o durante minha atuação como a omissão fácil pela qual optam as profissionais da educação.

Muitas vezes, nós, profissionais da educação, não percebemos o quanto esta limitação de expressão do afeto pode impactar o desenvolvimento de uma pessoa. Talvez se faça necessário informar que a homossexualidade não é uma opção. Não há escolhas neste sentido. Da mesma forma que um indivíduo heterossexual se apaixona ou se sente atraído sexualmente por outro do sexo oposto, um homossexual é atraído por outro do mesmo sexo. Sem opção. Seu corpo se emociona por outro assim como todos os seres do reino animal. Porém, contrariando das regras, sua emoção é dirigida a outro ser do mesmo sexo que o dele/a. Mas, de onde vem a regra? Quem a fez? Qual é o erro do ser emocionado?

Como foi educado/a para se envolver emocionalmente com pessoas do sexo oposto, inicia-se uma grande dificuldade cognitivo-emocional. A percepção das possíveis reações da família e da comunidade é fundamental para esta vivência. Os conflitos podem levar ao consumo de drogas, a negação do seu sentimento verdadeiramente e ao suicídio.

“Diferentemente de outras formas de hostilidade, o que caracteriza a homofobia é o fato de que ela visa mais claramente indivíduos separados e não grupos constituídos a priori como minorias. O homossexual sofre solitário o ostracismo ligado a sua homossexualidade em um ambiente hostil. Ele é, portanto, mais vulnerável a uma atitude de aversão a si mesmo e a uma violência interiorizada que pode levá-lo ao suicídio.” (Borillo, 2009, p. 19)

Um fenômeno com tal risco não pode ser negligenciado por psicólogos. Há uma obrigação em estudar como poderemos auxiliar nossos alunos independentemente de sua expressão. Devemos garantir o direito que têm em mostrar-se desde seus primeiros anos na escola. Sabemos que há alunos e alunas que demonstram seu interesse afetivo desde tenra idade. Não é necessário nos espantarmos com tal ação. Ao contrário, devemos preparar a escola para a aceitação das diferentes formas de amar que o ser humano dispõe. Citando novamente Tolstói em sua Ana Karenina: “Se é verdade que cada cabeça cada sentença, há de haver tantas maneiras de amar quantos os corações.”

Voltaremos a este assunto, posto a complexidade que o envolve.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

1000

Comemoro hoje mil visitas!
Obrigada aos leitores, amigos, conhecidos e desconhecidos interessados em Psicologia Escolar!
Agradeço principalmente ao amigo Jorge Pimentel fonte da idéia de criação deste blog e grande incentivador de minha exposição intelectual.
Graças também à jovem amiga e consultora deste veículo, Valentina Fonseca. Além de grande ajuda na estética do sítio, prossegue dando dicas enriquecedoras e presenteou-me com seu selo de qualidade. Fofa!
Aos amigos e às amigas que me estimulam verbalmente ao lerem minhas postagens: Lana Vieira, Nilvânia Faria, Carlos Adamuz, Cleide Souza.
Aos gentis amigos novos e antigos que se tornaram seguidores deste blog.
A todos os visitantes, agradeço imensamente: se não houvesse leitores, de que valeria meu esforço em escrever?
Muito obrigada!

sábado, 15 de agosto de 2009

Outros tipos de família

A última postagem, Famílias Desestruturadas, abriu espaço para refletirmos sobre outros tipos de famílias e envolvimentos afetivos diferentes dos esperados. Trataremos aqui das famílias que têm se apresentado e que nos cobram respeito e aceitação devido às dificuldades que enfrentam por serem, ainda, consideradas anormais.

Casais homossexuais, mulheres solteiras, homens separados, avós, tios, patrões, abrigos são exemplos de famílias. Não sou especialista no assunto, exponho aqui o que se apresenta nas escolas em que trabalho e trabalhei.

Não foi a revolução sexual que nos brindou com este buquê de possibilidades. As diferentes orientações sexuais e a morte são fonte delas.

Quanto à homossexualidade, à qual trataremos com devida atenção em próxima postagem, o alcance de fundar um lar com outra pessoa de mesmo sexo exige tanto de um indivíduo, que muitas vezes esse lar tem mais equilíbrio emocional que o formado por um casal heterossexual. Ou, na pior das hipóteses, terá tantos conflitos quanto os tem o hegemônico.

Mães solteiras são frutos de diversas origens: imaturidade feminina (por não identificar o pai dentre diversos parceiros, não se prevenir adequadamente, não exigir prevenção do parceiro e/ou por usar a maternidade como um modo de envolver o outro); imaturidade masculina (por não assumir o fruto de um momento irrefletido, não se prevenir adequadamente de uma gravidez indesejada ou por fugir a um compromisso amoroso); desejo feminino em ser mãe sem um parceiro para competir pela criança ou que seja um companheiro no sentido mais amplo da palavra. Hoje vistas com mais tranqüilidade, mas ainda carregando bastante preconceitos como irresponsabilidade e inconseqüência feminina. Nesse grupo enquadramos também as mães sozinhas. Apesar de haver as figuras masculinas por algum período, viúvas ou separadas enfrentam dificuldades cotidianas semelhantes às mães solteiras. Sobrecarga de trabalho no lar e isolamento para tomar decisões. Para este último caso, algumas mulheres separadas apresentam graus diferenciados de participação dos pais, havendo casos de aumento de problemas.

Pais sozinhos – homens separados ou viúvos (ainda não observei homens solteiros com filhos): não se equivalem às mães devido à grande admiração que causam por assumirem inteiramente os filhos. Como há naturalização da assunção feminina dos filhos no caso de separação do casal, quando o homem o faz passa a ser tratado com grande reverência e surpresa. Em geral, a comunidade escolar, incluindo outras famílias, observa os acontecimentos deste lar com maior atenção devido à crença no improvável sucesso dos homens na educação dos filhos. Nossa cultura colocou a educação das crianças nas mãos das mulheres e qualquer desvio nessa norma é vista com desconfiança. Os pais têm demonstrado muita sapiência, controle e afetividade assim como sempre fizeram as mães.

Irmãos: no caso de pais que morrem antes dos filhos chegarem à fase adulta ou têm impedimentos judiciais, os irmãos mais velhos cuidam dos mais novos. Na maioria das vezes, o ente mais velho assume a família totalmente e desempenha todas as funções como pai/mãe. Há casos em que as crianças chamam os irmãos de mãe ou pai.

Avós com ou sem a presença de um dos pais em casa: cada vez mais comum, este tipo de família tem crescido principalmente devido a forma de educação dada à primeira geração. A falta de responsabilidade com a própria vida inviabiliza a assunção de uma nova vida – a do(s) filho(s). Há casos de pai/mãe que tem filho(s) de vários parceiros, de apenas um, de ex-marido/esposa. Em todos estes exemplares são os avós quem criam a geração mais nova e ocorrem, algumas vezes, crises sobre quais são as regras preponderantes, as dos pais ou dos avós. Essas crises podem chegar à escola e, em geral, nós, psicólogos, somos chamados para mediar os conflitos familiares.

Tios: pais falecidos, com envolvimento com justiça ou drogas geram demanda de auxílio para seus parentes que assumem sua prole. Além dos avós, entram também em ação os tios. Há casos de proximidade com escolas consideradas de melhor qualidade em que as crianças ficam os dias da semana na casa dos parentes.

Patrões do(s) pai(s): nossa histórica estrutura social colonial chega aos dias de hoje com as moradias compartilhadas entre patrões e empregados. Em bairros nobres, com grandes casas, os empregados convivem 24 horas, 7 dias por semana com seus empregadores. Isso também ocorre nas famílias de classe média, quando a empregada doméstica tem um ou dois filhos e mora no trabalho. Alguns patrões se afeiçoam excessivamente ao descendente do subordinado e o tratam como seus filhos. Há casos de crianças que chamam os donos da casa de pais e tratam a mãe pelo nome. Na escola, essas crianças competem com os demais se auto-afirmando por terem piscina, sauna, churrasqueira dentro de casa. As confusões de identidade são tão perigosas que podem chegar à negação da real condição social e genética.

Abrigos: aqui está algo difícil de explicar e de vivenciar. Há uma tendência mundial em transformar abrigos infantis em casas-lares. Os cuidadores, geralmente mulheres, são considerados mães-sociais e devem desempenhar o papel de mãe. Mas, como bem alertou uma colega minha de trabalho, mãe não tira folga. E eu acrescento que mãe às vezes dá um tapa quando os limites são ultrapassados, o que é vetado às mães-sociais terminantemente. As mal-criações são as mesmas e, talvez devido ao veto, até piores. As angústias entre permanecer em tal emprego e sair são imensas. Ocorre envolvimento emocional profundo: algumas crianças consideram a profissional mãe e a genitora apenas uma pessoa conhecida, no máximo uma parenta. A mãe-social também sofre com as possibilidades de alteração de função/papel por parte dela mesma e da criança.

Até atingir a necessidade de abrigamento, uma criança passa por muita dificuldade. Assim, elas são nossas clientes preferenciais, pois carregam um conjunto de traumas advindos de espancamentos, assédios sexual e moral, envolvimento com drogas, comércio (trabalho em sinais de trânsito ou com tráfico de drogas), situação de rua (meninos de rua ou moradores de rua com os pais). Em cada casa-lar há pelo menos oito crianças, já presenciei uma com quinze. Por lei, os irmãos não são separados. Cada caso tem suas idiossincrasias, seus distúrbios, seus comprometimentos. As trocas de experiências são inevitáveis, podem ocorrer trocas de vícios comportamentais e químicos. É possível ocorrer abuso sexual dentro da própria casa, principalmente se o atual abusador tiver sido abusado e não tiver recebido atendimento adequado.

Casais sem filhos: este tipo de família tem sido encontrado com cada vez mais facilidade e, penso eu, que isso se justifica pela valorização da liberdade do casal. A energia dispensada com as responsabilidades que uma criança exige é direcionada para todas as outras atividades que um adulto pode desenvolver. Não vejo nesta questão um exemplo de egoísmo, muito pelo contrário. Deve-se ter muito cuidado ao decidir pela descendência. É necessário muito desprendimento para se criar bem outro ser humano. Essas pessoas que decidem não ter herdeiros optaram responsavelmente por si mesmas. Se elas estão perdendo ou ganhando, não cabe a ninguém julgá-las.

É provável que eu tenha falhado em expor algum tipo de família por pouca memória ou vivência. Para este tipo de lacuna disponibilizamos o espaço para comentários logo abaixo desta postagem. Por favor, fique a vontade, clique sobre a palavra e sinta-se livre para expressar-se.

Todos esses tipos de família ainda estão sujeitas a nova estrutura familiar brasileira anteriormente descrita/proposta em Famílias Desestruturadas. Em todas estas formas de famílias, não vemos a Dó-re-mi “desejada”. Os representantes nas reuniões de pais são os mais diversos e as escolas os aceitam porque é cada vez menor a freqüência de adultos nas reuniões. As instituições de ensino precisam de contato com os responsáveis e quando ele acontece, todo o corpo profissional festeja.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Famílias Desestruturadas

Quando eu fiz meu curso de ensino fundamental primeiro seguimento (é assim que se fala?), nossos livros apresentavam textos com famílias desenhadas: pai, mãe, filho, filha brancos e empregada negra. Essa era a família padrão dos anos 80. Mas havia famílias chefiadas por mulheres, com mães trabalhadoras e outras que desconheço.

Durante a década de noventa, os livros didáticos foram altamente criticados por apresentar uma família de estrutura rígida e racista, já que os negros, quando apareciam, estavam sempre em uma posição social inferior aos brancos. A razão de criticar tais instrumentos educacionais se faz pela naturalização que trazem desenhos e histórias repetidas na infância. O que sempre é visto torna-se comum ao ponto de ser considerado natural e, portanto, esperado. Os livros didáticos foram revisados e suas ilustrações passaram a retratar famílias negras, orientais e situações típicas indígenas.

Porém, nós – profissionais – ainda somos preparados para trabalhar com a família Dó-re-mi do primeiro parágrafo. Nossos textos técnicos, apesar de não ter ilustrações, tratam de famílias européias ou norte-americanas típicas de pelo menos trinta anos atrás. Lembro-me dos comentários da minha professora de Psicologia do Desenvolvimento alertando para as possibilidades de se encontrar crianças com desenvolvimento diferenciado daquele mostrado nos livros da Helen Bee.

Mas ninguém nunca nos alertou sobre famílias diferenciadas.

Já enquanto profissional, durante atendimento de professoras, ouvia sempre falar de famílias desestruturadas. Eu compreendia perfeitamente que a família do aluno em pauta não era a Dó-re-mi. As famílias são descritas, às vezes, desde os avós pelas professoras e coordenadoras, o que facilita muito a compreensão do que acontece com os alunos. Mas a expressão desestruturadas não faz mais sentido para mim. Explico o porquê.

Acredito que a estrutura da família brasileira mudou completamente. Se a família Dó-re-mi foi algum dia o padrão do Brasil, hoje ele está bem diferente. A família hoje corresponde a um genitor biológico e outra pessoa, geralmente parceiro sexual do primeiro. Comumente, o genitor é a mãe e a outra pessoa, o padrasto. Há casos em que os filhos do padrasto também se associam à nova família. Neste caso, identificamos um problema de denominação: como chamar a relação entre as crianças? Creio que não são meros amigos porque pertencem à nova família formada. Também ocorrem novos nascimentos e nascem meio-irmãos/ãs (também desconheço o plural correto deste termo e se há hífem ou não). Também acontece desse segundo relacionamento matrimonial se desfazer e surgir um terceiro. É devido à freqüência dessas ocorrências que considero importante cunharmos rapidamente uma nomenclatura para esse novo tipo de parentesco não-sanguíneo.

Vejamos como ficaria um esquema dessa estrutura familiar que é freqüente nas escolas onde atuo e que percebo em todas as classes sociais – apesar de ainda não aparecer nas novelas:


Com intuito de não confundir muito, tomamos emprestados os lindos símbolos da genética, com adaptações. Para os que não se lembram (ou não prestaram atenção às aulas) os quadrados são machos e os círculos são fêmeas. Os traços horizontais na primeira linha indicam relação atual. As linhas pontilhadas mostram relacionamentos anteriores. Os traços horizontais inferiores demonstram relações de parentesco e os verticais, descendência. No meu esquema, na segunda linha temos os dois primeiros meninos filhos do segundo matrimônio da mãe. As quatro figuras seguintes (uma menina, um menino e duas meninas) vivem com o casal representado logo acima deles. Os três seguintes vivem com o pai, a filha se desentendeu com suas regras e foi morar com a mãe. No relacionamento do centro, ambos os parceiros advém de relações anteriores. O marido entra no novo casamento com seus dois filhos da primeira relação e teve uma menina com a atual esposa. Essa, por sua vez, trouxe a filha que se desentendeu com o pai. Nessa família há padrasto, madrasta, pai e mãe. Denominaremos os filhos do esposo de co-irmãos da filha da esposa.

Se este novo esquema não suscitasse problema nenhum, eu terminaria aqui minha exposição. Porém, como muitos sabem, as paixões intra-familiares são comuns. Os tabus ocorrem quando há co-sanguinidade, mas o que se faz quando co-irmãos se apaixonam ou brincam juntos sexualmente e geram um bebê? Como evitar que isso ocorra?

Mais comum do que este risco é a indecisão dos padrastos e madrastas assumirem o papel de pais. Há restrições por parte do pai genético, da esposa, da própria criança/adolescente. No nosso exemplo, tomando a família central novamente: caso a esposa decida informar a enteada sobre pílulas anticoncepcionais quando ela completar treze anos, a mãe poderá se sentir invadida, pois pode considerar esse assunto íntimo restrito à relação mãe (genitora) e filha.

As formas de educação de cada pai, as interpretações dos genitores que não moram com os filhos, os riscos de o novo esposo envolver-se emocionalmente com a filha: temores que assombram novos relacionamentos recheados de filhos e enteados. Muitos problemas advêm da dificuldade de decisão sobre os novos papéis e de entendimento entre os ex-parceiros. Também podem ocorrer problemas da não aceitação de separação e novo relacionamento. Crimes ocorrem devido à falta de definições emocionais. Todas as pendências geram sofrimento e impactam a vida escolar.

Não falamos ainda sobre as avós e avôs que enfrentam uma jornada ampliada como pais de seus netos. A realidade econômica aumenta cada vez mais a necessidade deste tipo de auxílio às novas famílias. Há grandes crises quanto às formas de educação intergeracionais. O excesso de respeito e os desrespeitos que surgem desse arranjo, também costumam chegar às nossas mãos porque confundem as crianças e geram conflitos em todos os personagens da família.

Essa fofoca toda acaba em nossas mesas de trabalho e não falar disso é tampar o sol com a peneira. Creio que assistentes sociais devam ser especialistas nesse assunto. Apesar disso, considero o tema aqui abordado assunto da sociologia, já que se trata de nova formação básica da sociedade. Trago ele à tona para alertar os/as alunos/as de psicologia e provocar discussão nos profissionais.

Há ainda as famílias que começam a se mostrar nas escolas e que merecem um texto exclusivo: as que impõem uma revisão no conceito de família.