quarta-feira, 23 de junho de 2010

7000

Upa, upa, upa!!!!!
Como estou contente!
Sinalizo, como de costume, que nosso blog atingiu a marca de 7000 acessos.
Tenho cada vez mais recebido mensagens de estudantes, pais de alunos e profissionais discutindo, lançando questões, enfim contribuindo para o crescimento deste sítio e da área.
Informo que o meu e-mail pessoal está exposto na lateral esquerda do blog e que pode ser usado para comentários quaisquer.
Quero de público agradecer as/os companheiras/os que me auxiliam grandemente fazendo a revisão dos textos publicados e sugerindo temas para serem expostos e discutidos:
Veida, Carlos, Nilvânia.
Um beijo no coração de vocês!
Obrigada a todos e todas que sugeriram questões (valeu, Mariane!) e que nos brindam com sua atenção e comentários.
Vicenza Capone

domingo, 20 de junho de 2010

Ecologia Prática

Estamos em uma era de cuidado extremo com a casa onde moramos justamente pelo fato de não termos cuidado adequadamente por muitos anos. O respeito pelo ambiente que nos cerca não envolve somente plantas e animais, mas pessoas que fazem parte dele. Sempre me considerei uma pessoa ecológica e neste blog mostro no Espaço Ecológico um pouco disso. Quando era menina me preocupava com a saúde da população de Cubatão e imaginava como poderia agir pessoalmente para salvar o planeta já que as baleias estão tão distantes fisicamente de nós.

Pois bem, no mês passado tive uma amostra do quão difícil este exercício pode ser. Um dos parques ecológicos do Planalto Central é o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Há um número imenso de cachoeiras lindíssimas, o cerrado é preservado e a comunidade é bem preparada para o turismo ecológico na sua principal entrada: o povoado de São Jorge, município de Alto Paraíso, Goiás. Pela proximidade com o DF, nós, brasilienses, vamos muito lá.

Assim, fui um final de semana para aproveitar a região usando minha bicicleta como transporte. Ainda não estou acostumada com ela, mas tenho certo preparo físico, pois me exercito correndo. Todas as pessoas que atendem nas pousadas, restaurantes, lojas e mercados são muito solícitas e preparadas para o turismo. Eu sou muito comunicativa e informei para algumas pessoas que me atenderam que eu pretendia ir a algumas cachoeiras de bicicleta. Todos eles foram unânimes em seu espanto e alerta de distância e dificuldade. Eu só pensava na quilometragem e ela estava dentro dos meus limites. Quando eu insistia que não seria tão difícil, eles respondiam que eu deveria estar preparada e desejavam boa sorte.

Meu primeiro passeio demorou mais que o dobro do tempo que eu havia previsto. Foi excelente! À luz do plenilúnio, cheguei a desligar o meu farol. Porém, em Brasília ando de bicicleta no asfalto, pouco relevo e em parques urbanos sem carro. Tive que enfrentar as costelas da estrada de terra, a poeira levantada pelos carros que passavam, defeitos da bicicleta e ladeiras impensadas. Minha inocência infantil manteve a graça do passeio.

No dia seguinte, deixei a magrela descansando e fui fazer trilhas a pé e depois de carro. No último dia, resolvi usar minha bicicleta novamente para fazer um passeio de seis quilômetros. Antes de vencer os três quilômetros iniciais, eu já estava pedindo ajuda ao altíssimo. Depois de ultrapassar a porteira de acesso, recebi as instruções dos donos da fazenda sobre as cachoeiras. Desci os outros três quilômetros com dor nos nós dos dedos de tanto frear. Mal sentava-me devido às costelas e aos buracos da estrada de terra. A vista era encantadora e os odores do cerrado fascinantes. As cachoeiras são fabulosas e descansei bastante antes de subir novamente. Não me senti a vontade para banhar-me devido à quantidade de pedras e ao receio de trombas d’água que ocorrem nesta época do ano.

Já chegava a hora de retornar. Sabia que seria difícil, por causa da decida bastante íngreme. Penso que fiz apenas duzentos metros sobre a bicicleta. Todo o trajeto foi feito empurrando o transporte sobre o sol seco do meio-dia. Nunca suei tanto! Durante a subida, meu companheiro sugeriu ir buscar o carro na cidade para me buscar. Meu herói! Ambos, quase mortos, chegamos ao portão da propriedade onde o filho do dono nos ofereceu água.

Enquanto eu esperava meu super-homem retornar, engajei uma conversa sobre a região com o responsável pelo local. Então perguntei sobre o horário de encerramento de visitação das cachoeiras. Ele informou-me que todos os proprietários de terras concordam em encerrar as atividades às cinco da tarde por causa dos bichos. Eu, ignorante, pensei que seria para proteção dos humanos. Ele prosseguiu informando que a maioria dos animais sai entre seis e oito horas da noite para buscar alimentos e/ou caçar. Se eles virem um bicho-homem, voltam à toca e não saem mais. Isto prejudica principalmente os filhotes em amamentação. As fêmeas nutrizes podem ficar fracas, e seu leite consequentemente, fragilizando a prole.

Fiquei espantada com a justa preocupação do nativo e a profundidade de seu conhecimento. Afinal, concluí, eles não estão preparados apenas para o lucro extraído da beleza natural de que dispõem. Também não estão preocupados com seus irmãos em espécie. Estes brasileiros sabem como proteger os animais que ocupam as terras das quais são responsáveis. Se ocupam e informam os desavisados (eu) sobre os perigos da região e são exigentes quanto a lixo e coleta. Em todas as cachoeiras que visitei, há avisos sobre o cuidado com resíduos, a proibição da coleta de plantas e da caça de animais silvestres. No parque é proibido inclusive catar pedras! Os guias são preparados para auxiliar pessoas com pouco preparo físico e salvamentos eventuais.

Expressei meu encanto pelo capricho e preparo do meu interlocutor. Informei o quanto me sentia desrespeitosa quanto aos avisos dos moradores de São Jorge. Elogiei o trato ecológico da população. Ele, então, se referiu à baixa preocupação do governo do Goiás com a região e expôs que talvez haja mais investimentos no local com a Copa do Mundo de 2014. Desfiou os planos dos locais sobre suas buscas de melhorias para receber os visitantes de todo o mundo que assistirão aos jogos sediados em Brasília.

Eu caí de amores! Além da aula de ecologia que tive, ainda fui agraciada com uma dissertação política. Estes cidadãos, além de preservarem nossa fauna e flora de forma a mantê-la para as próximas gerações, conhecem e estão preparados para os riscos do interesse político nas riquezas que guardam.

Em que essa minha viagem se relaciona ao tema deste blog?

É que não acredito na influência da escola sobre o profundo conhecimento destes indivíduos em relação ao seu habitat. A preocupação das pessoas com meu bem-estar físico de ciclista liga-se a solicitude da população. Os horários dos animais silvestres também não devem ter sido aprendidos na escola, senão com os habitantes mais antigos. A visão política e de planejamento com vistas a melhorias na região também, isto é certo, não são coisas que os brasileiros aprendem na escola.

Enfim, questiono aqui o papel real da escola para a formação da cidadania.

Como meus/minhas leitores/as sabem, sou mestre em psicologia, quer dizer tenho muitos anos de educação formal. Este meu conhecimento é restrito a algumas poucas áreas. De nada me valeu quando eu empurrava minha bicicleta ladeira empoeirada e ensolarada acima, após ter contrariado todos os profissionais que me sinalizaram de forma a evitar tal sofrimento.

Além do meu aprendizado de humildade, pretendo, com este texto, compartilhar minha aquisição de respeito aos nativos. São eles que conhecem verdadeira e profundamente as características do lugar, seja ele qual for. O respeito ao ser humano que habita o local onde estamos também é ecologia.

sábado, 5 de junho de 2010

As questões da Mariane

A Mariane é uma estudante de psicologia de uma capital do nordeste e me fez uma pergunta no meu endereço eletrônico particular.

Eu não perguntei a ela se poderia informar seus dados aqui no blog por isso eles vão assim cifrados. Acredito que ela não se incomodaria em ter sua identidade revelada aqui, mas já demorei demais para lhe responder. Ela me mandou as seguintes perguntas em 16 de maio e somente agora pude respondê-las. Espero que a auxilie assim como a outros leitores.

1) Qual o objetivo do trabalho do Psicólogo Escolar?
O objetivo do trabalho do Psicólogo Escolar é adequar a escola para as demandas pessoais de cada aluno e profissional na medida do possível; manter a saúde mental dos personagens partícipes da comunidade escolar, principalmente o professor; participar ativamente dos processos de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais; orientar pais e responsáveis por alunos que solicitem acompanhamento diretamente ou que os profissionais da escola indicarem; atentar para condições de trabalho insalubres e evitar acidentes de trabalho; contribuir para a melhora do clima organizacional. É possível resumir todas estas questões em apenas uma frase? Claro que sim. O Psicólogo Escolar deve utilizar sua ciência como instrumento para otimizar o processo ensino-aprendizagem conduzindo os participantes da comunidade escolar a melhores níveis de saúde mental.

2) Qual a importância da atuação do Psicólogo Escolar nas escolas públicas?
O profissional psicólogo em instituições públicas de serviço representa a única forma de acesso da população de baixa renda à psicologia. Digo isto porque em minha cidade há muitas faculdades de psicologia e nelas há disponibilidade de atendimento psicoterápico nas clínicas-escola. Entretanto, o atendimento nestas instituições é dificultado pela grande demanda. Além disso, é necessário o dinheiro para se chegar à clínica e, muitas vezes, as famílias não têm sequer um valor mínimo para a condução.

Assim, psicólogos nas secretarias municipais e distrital de saúde, educação e desenvolvimento social são as possibilidades de acesso da maior parte da população brasileira aos benefícios da psicologia.

Talvez por ser psicóloga escolar, acredito que no nosso caso temos maior contribuição a dar porque está sob nossa responsabilidade toda a população de crianças e adolescentes. Isto ocorre devido a obrigatoriedade legal da permanência em instituição escolar de todas as pessoas entre seis e quatorze anos – no ensino fundamental de 9 anos. Há um projeto de lei no Congresso Nacional prevendo o aumento da obrigatoriedade para dezesseis anos.

Sob nossa tutela estão crianças e adolescentes de baixa renda, que pertencem a famílias com problemas sociais e/ou envolvimento com drogas, com histórico de abuso sexual ou cujos pais não sabem como lidar com os filhos, como educá-los. Estas pessoas têm em nós, psicólogos escolares públicos, sua única oportunidade na vida de acesso ao serviço de psicologia. Nossa obrigação é atendê-los da melhor maneira, com empenho e esforço.

3) Qual a maior dificuldade?
A maior dificuldade que enfrento é o desconhecimento dos demais profissionais sobre o nosso trabalho na escola.

A segunda maior dificuldade, e a que mais me preocupa, é a psicologia exercida com descaso e incompetência provocando desconfiança na área por parte de cidadãos e outras categorias profissionais. Nossas ações devem ser conscientes e adequadas cientificamente de modo a resguardar nossa profissão como um todo, não podemos pensar isoladamente.

Agindo com responsabilidade e focando a construção da profissão garantiremos valorização profissional, aumento das vagas para atuação das gerações vindouras e melhoraremos a saúde mental da população de forma a reduzir gastos públicos com segurança e saúde. Nossa ação é primordialmente preventiva. Para isto, devemos estar preparados para a grande demanda que nos é apresentada e atuarmos com muita qualidade e cuidado. Ações responsáveis e seguras resolverão o primeiro problema apontado.

4) O apoio do Psicólogo escolar vai além da escola?
Sim, muitas vezes minhas orientações invadem a vida do casal parental de forma a beneficiar o desenvolvimento do meu aluno e de seus irmãos. Parcerias com instituições como CRAS e CREAS, Postos de Saúde, Clínicas Sociais, escolas de esportes são essenciais para o melhor desempenho do nosso trabalho pois podemos garantir atendimentos através delas. Já falei disso neste blog.

5) Hierarquicamente, quais os maiores problemas que os alunos "trazem" pra sala de aula?
Esta pergunta não pode ser generalizada. Há comunidades muito envolvidas com tráfico de drogas e nessas, com certeza, este deve ser o maior problema.

O psicólogo escolar deve estar atento o tempo todo para sinais que os educadores dão sobre sua saúde. Isto é uma coisa que me chama muito atenção. Esta categoria está estressada. Devemos apoiar sua saúde. Deixo claro que não me refiro apenas aos professores, mas aos agentes de limpeza e diretores de escola também.
A agressividade da nossa sociedade também é muito indicada para nossa intervenção, mas não vejo tanto problema nisso. Nossos alunos estão mostrando para os professores e para nós o que aprendem nos noticiários, desenhos animados, filmes, novelas e nos comportamentos de seus familiares e vizinhos. Que comportamentos deveríamos esperar deles na escola?

Quanto ao “bulling”, não o considero nada além de falta de respeito. Dar novo nome a fenômenos antigos nunca resolveu nada. Aliás, esse nome tem nos dificultado falar dele porque cada um escreve de um jeito, os professores de inglês ficam corrigindo nossa pronúncia, besteiras que nos dificultam chegar onde devemos. O costume de apelidar as pessoas é tão antigo no Brasil que são raras as pessoas que sabem quem é Arthur Antunes Coimbra. Poucas pessoas sabem o nome do Pelé. E quem sabe o nome do Fiuk? Só mesmo a wikipédia para nos salvar: Filipe Kartalian Ayrosa Galvão. Além disso, nossos alunos devem saber se defender de abusos que os perseguirão por toda a vida. Enquanto profissionais não sofremos ataques? Quando foi que nos preparamos para eles? Na infância, no período de teste de todos os comportamentos adultos. Por que não permitir que as crianças resolvam seus problemas entre si? Creio que devemos fortalecer os alunos que se deixam perturbar. Não acredito na solução do “bulling” através de palestras, jogos ou broncas aos pequenos.

Acho que fugi um pouco da pergunta que era objetiva. Mas como o blog é meu, pensei que a minha opinião sobre os assuntos apresentados pode ser instigadora aos leitores. Para a querida entrevistadora, digo que questões de abuso sexual também são comuns e difíceis de abordar e solucionar. Não há hierarquia entre os problemas. Todos devem ser resolvidos rapidamente, principalmente porque logo chegarão novos.

6) Qual o papel do Psicólogo na educação inclusiva/inclusão social?
O psicólogo é chamado para sensibilizar a comunidade escolar para a existência de pessoas que não são tão adaptáveis quanto outras. O discurso atual repete que devemos estar preparados para a diferença, porque todos os alunos são diferentes. Isto é mais que verdade. Não existe turma nivelada. Esta idéia é uma grande falácia e deve ser combatida com muita delicadeza e empenho. Ainda há muitos professores que sonham com uma turma que acompanhe a sua condução sem adaptações. A universalização da educação acabou com os resquícios deste sonho. É em nome dela que a inclusão deve ser construída.

Todas as pessoas, sejam elas como e quem forem, têm direito aos serviços comunitários. A escola é a primeira porta que se faz aberta para todos.
Ampliar a visão de pais, alunos, professores, empregados da escola e gestores em educação é papel da psicologia por ser esta a ciência que estuda os indivíduos e suas relações pessoais e ambientais.

6000

Querido/as leitores/as,
agradeço imensamente a frequencia de todos e todas e peço desculpas pelo meu sumiço no último mês.
Questões concretas e afetivo-profissionais me afastaram deste prazer que é escrever este blog.
Fiquei realmente surpresa em verificar a contagem de acessos hoje.
Infelizmente perdi a informação da data em que atingi a marca dos 6000 acessos.
Mas isto não tem muita importância.
O que vale são as mensagens que estão sendo enviadas e as questões que estamos provocando nos navegadores.
Mais uma vez agradeço aos meus incentivadores. Agora se somam a eles pessoas que têm coragem de me questionar diretamente mesmo sem me conhecer.
Informo aos que têm questões que sou uma pessoa muito gentil e acolhedora. Adoro discutir, mas não de brigar. Aceito sugestões, críticas e perguntas como as feitas pela leitora Mariane e pelo Mário. Suas respostas vão publicadas a seguir.
Motivada a acrescentar ainda mais,
Vicenza Capone