domingo, 18 de julho de 2010

Fortalecimento de Ego

Somos dominados por nossos próprios pensamentos. Nossas crenças nos limitam as ações. Se acreditarmos que não podemos voar, ficamos junto a terra. Santos Dumont acreditou que poderia voar e inventou o avião. Mas as imposições de outras pessoas não têm o mesmo efeito. Nelson Mandela nunca acreditou na superioridade da “raça” ariana. Sofreu por isso e mostrou a todo o mundo como os homens são equivalentes independentes das cores de sua pele. É claro que esses exemplo são de pessoas distintas, indivíduos fortes, admiráveis. Digo, então, que isto é o que os difere de nós. A fortaleza de sua personalidade faz com que os demais da espécie pensem como eles e não o contrário, forçando uma reestruturação de crenças.

Trabalho o bulling seguindo esta teoria. Devemos fortalecer as personalidades das quais cuidamos para que elas próprias possam apossar-se de si mesmas e não submeter-se a ideias destruidoras advindas de outros.

Quando um/a aluno/a me procura solicitando auxílio porque outro/a aluno/a xingou sua mãe, está claro para mim que quem precisa de intervenção urgente é ele/a. Questiono diretamente se a sua mãe é o que o/a colega lhe falou. Logicamente a criança responde negativamente. Apresento assim a sua contradição, já que sua mãe não é tal, qual a origem de sua preocupação? Esvaziada a angústia, passo a tratar o/a ofensor/a. Coloco-o/a na situação do/a colega ofendido/a. Além disso, questiono qual o efeito das ações da mãe do outro sobre suas vidas. A ofensa perde o sentido, são exigidas desculpas apropriadamente e questiona-se se são aceitas. A amizade é restabelecida ou não e, quando cabível, as punições são estabelecidas perante os dois ou quantos sejam.

Pode ocorrer a repetição/continuação da ofensa, mas a partir desta intervenção o/a ofendido/a terá opção de não se sentir assim.

Creio que esta é uma das principais ferramentas de trabalho da Psicologia: o fortalecimento do ego que possibilita primordialmente a autonomia do sujeito.

Cultura e fragilidade humana

Quem é meu leitor já percebeu que meu estilo de escrita é livre, sem preocupação com citações. Muitas pessoas me dizem que é fácil ler o que escrevo e sinto isto como um elogio. As ditas citações fazem o texto ser científico. Não me preocupo em ser científica, mas em compartilhar teorias que formulo advindas da minha prática profissional. Sobre a minha concepção de relação teoria/prática escreverei em próxima oportunidade.

Acredito que a ciência nos afastou muito da natureza e isto tem nos feito bastante mal. Já falei sobre a pouca produção científica brasileira na área de psicologia escolar e como isto é preocupante. Creio que a necessidade de fundamentação teórica é um dos agravantes deste problema. Sendo válido somente o que é dito quando se relata o pensamento de terceiros, a fala autêntica se perde e a criatividade empobrece.

Lamarck nos brindou com um pensamento autêntico quando postulou o conceito de desenvolvimento de órgãos através de uso e desuso. Se ele tomou esta idéia de outrem, quem ficou famoso foi ele e não posso ser culpada por esta injustiça. Dizem que as pessoas que comem pouco ou não comem (as que vivem de luz, sei lá) têm seus estômagos muito reduzidos. É sabido que usamos apenas 10% da capacidade de nosso órgão cerebral. Então, como é que nosso cérebro é tão extenso? Por que o usamos tão pouco?

Eu penso que a cultura tem nos aprisionado e por isso estamos nos tornando fracos, menos inteligentes, desamparados frente as forcas da natureza e reféns da violência uns dos outros. Resumindo, estamos afastados da natureza que nos fortalece.

Sabemos que na idade média, os guerreiros usavam armaduras pesadíssimas e que suas espadas os homens de hoje não as podem sustentar, imagine se podem lutar com elas!

Monteiro Lobato em O Saci do Sítio do Pica Pau Amarelo através do personagem título nos fala o quanto o ser humano é despreparado para a vida. Todos os animais e vegetais já nascem sabendo o que devem fazer para sobreviverem, procriarem e morrerem. Nós temos que permanecer anos na escola para termos vidas de acordo com nossa cultura. As clínicas de distúrbios sexuais nos apontam para a falência de nossa atividade sexual. Quanto a morte, com perdão da minha ignorância, apenas monges adiantados sabem como morrer ou conduzir alguém por este portal, seja para outra vida, seja para o nada.

Devo ressaltar que muitas de nossas crianças vão bem sem a escola. Sobrevivem usando as regras sociais em seu benefício, algo que mostra inteligência. Porém, são pouquíssimas as que conseguem viver por muito tempo, principalmente nas grandes cidades onde são perseguidas ao invés de acolhidas. Mesmo assim tais crianças precisam aprender a andar, falar, o funcionamento das regras.

Tenho orientado pais de alunos/as a treiná-los/as sobre os perigos da rua porque a violência urbana tem trancado nossas crianças em casa. A tecnologia, a ciência, a cultura faz com que os pequenos se acomodem em casa sem reclamar a falta que o convívio com seus pares e com a natureza lhes faz. Eles engordam, ficam preguiçosos, energizados negativamente, perdem oportunidade de cooperação, perdem percepção de risco, postura alerta e se tornam extremamente frágeis. Se há mais vento, não sabem que já vem chuva e devem se proteger. Não conhecem as árvores e não percebem que lhes podem cair frutas na cabeça, como abacates. Não conhecem intenções de pessoas desconhecidas que lhes podem fazer mal.

Frágeis!

Nós nos tornamos cada vez mais frágeis. Nossas crianças não têm treino corporal, intelectual, afetivo para dificuldades. Quais são nossos objetivos com elas?

Até hoje a ciência não explicou como as Pirâmides do Egito e Stonehenge foram construídas. E eu não posso imaginar como temos o maior cérebro dentre os seres vivos. Mas quem sou eu, não é mesmo? Não passo de uma livre pensadora que divide suas inquietações com pessoas igualmente curiosas.