sábado, 27 de novembro de 2010

Jogos de computador e desenvolvimento cognitivo

Jogos são simuladores de situações que nos proporcionam vivenciar aspectos da realidade e de nossa personalidade sem riscos para nossa integridade física, psíquica ou emocional. Muitas vezes os limites entre realidade e simulação são desrespeitados pelos jogadores. Isto, entretanto, não invalida a função e os benefícios que os jogos nos oferecem.

Utilizo jogos com meus alunos e alunas para avaliá-los/as e para trabalhar suas fragilidades. Durante as partidas, as crianças agem livremente e se sentem seguras. Nossas intervenções facilitam esta sensação. Quando o rapport está estabelecido é possível mostrar-lhe que comportamentos podem estar influenciando o baixo rendimento escolar, a falta de atenção, os problemas de comportamento, alguns problemas de fala, entre outras questões. Estes sintomas são os mais frequentes que enfrentamos.

As possibilidades de erros, as negociações de regras, as situações imprevistas, as quebras de acordos, os logros, as fraudes que uma partida proporciona ocorrem apenas em uma mesa real. Elas fazem com que as crianças exponham como agem. É no momento em que se detecta uma ação problemática que alertamos a criança, conscientizando-a do que realmente ocorre. A partir deste momento pode acontecer a mudança de comportamento.

Muitas vezes, os pais, irmãos, primos, amigos de uma criança corrigem suas atitudes e conceitos errôneos durante partidas de jogos ou fora deles. A ação terapêutica, no entanto, está ligada a nossa atuação profissional, e pode ser utilizada como instrumento na clínica.

Muito do desenvolvimento cognitivo que os leigos percebem estar ligado aos jogos advém desta possibilidade que os jogos trazem. Mas ela está mais ligadas às relações sociais, suas funções e impactos do que dos jogos em si.

A prática de jogar no computador reduz muito a riqueza que estes simuladores propiciam por cortar as possibilidades de erros, negociações, dilação de tempo e as já citadas. A substituição da atuação no mundo (subir em árvores, pular corda e amarelinha, pique-pega) pelo uso de computadores, internet e playstation é condenável exatamente devido a restrição de convivência social que impõem. Há desenvolvimento sim, mas é restrito, limitado, proporciona indivíduos ensimesmados, autocentrados, que se satisfazem com suas relações homem-máquina. Solidão, individualismo, intolerância.

No computador, não é possível errar, lograr, negociar, refazer as regras. Tudo é rígido é pré-estabelecido. Não há criatividade, espontaneidade, cooperação, tolerância, amizade, companheirismo. Esses valores não são valorizados nos jogos de máquinas mesmo se há outras pessoas operando, como na internet.

Os jogos eletrônicos são úteis, seguros, educativos. Mas estão longe de ser substitutos da vida saudável das ruas e das mesas que, com seus perigos, nos ensinam os riscos reais que a vida com os outros nos trazem. Estes últimos nos ensinam a como lidar com as pessoas, o que e quem devemos evitar e/ou aceitar.