quinta-feira, 23 de junho de 2011

14 mil

Marcando mais um milhar de acessos, agradeço a frequência e a visita de leitoras e leitores.
Agradeço a associação dos novos seguidores. Informo que uma delas é minha chefe. Hum, estou tão feliz com isto!
Espero fazer jus a confiança depositada!
Vicenza Capone

Medicalização e Pedagogia

Como psicóloga escolar sei muito pouco de pedagogia. Não estudei esta ciência na faculdade, não fiz nenhum curso curto ou em pós-graduação nesta área. Informo que as/os futuras/os psicólogos escolares vão conviver de perto com pedagogos, pois a escola é o campo de atuação deles. Aprendemos muito com eles todos os dias. Muitas vezes, durante nossas reuniões na escola, lembro minha chefia que não posso responder determinada questão por não ser pedagoga. De fato, as perguntas se misturam. Da mesma forma que não podemos permitir que pessoas alheias à ciência psicológica interfira ou atue como psicólogo, também não podemos emitir opinião na área das demais ciências.

Percebo que há uma tendências das docentes em entregar os/as alunos/as com problemas de forma a reduzirem sua responsabilidade com eles/as. Daí vem o fenômeno da medicalização da educação. Os alunos são "laudados" - que termo deprimente. Alguns colegas chamam os alunos pelos seus diagnósticos como os médicos fazem em hospitais: "aquele é um TGD"; "nesta turma temos duas Downs".

Em meu trabalho, além dos atendimentos de adultos e crianças, fazemos também avaliação dos pequenos e encaminhamos para avaliações médicas complementares. Isto porque nossa instituição só aceita oferecer melhores condições educacionais para os/as alunos/as com necessidades educacionais especiais (ANEE) com laudo médico, exceto alunos/as com deficiência mental. Porém, os encaminhamentos para o nosso setor são carregadas de um sentimento de despojamento perante a/o aluna/o em foco.

Muitas/os das/os alunas/os encaminhados para nós o são porque a professora não sabe como lidar com ele em sala de aula. Algumas vezes, os recursos da professora foram esgotados e ela divide então a responsabilidade pela educação daquela criança conosco. Aí mora o fenômeno da medicalização desordenada como está.

É claro que existem crianças com problemas médicos. Há, sim, dislexia, deficiência de atenção, deficiência auditiva, hiperatividade. Estes problemas não impedem o aprendizado da criança e método de ensino é a área de atuação da pedagogia. Ouço professoras perguntando o que devem fazer, questionam os médicos e a mim, como psicóloga, sobre como ensinar este/a ou aquele/a aluno/a.

Lembro que o Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) obriga docentes desde o nível fundamental a ter formação superior. A maioria maciça desses/as profissionais é pedagogo/a ou está finalizando o curso. O que explica o profissional da área buscar respostas para sua questão própria em outras ciências?

Penso que nós, psicólogas escolares, poderíamos começar a fazer um movimento de conscientização das nossas colegas pedagogas sobre seu valor enquanto representantes da ciência dentro das escolas. São os/as pedagogos/as que sabem ensinar. São ele/as que dominam os vários métodos de ensino. Nós, psicólogas/os não sabemos disso.

Ouço muitas das minhas colegas de trabalho dizerem que são psicopedagogas, como se o prefixo fosse mais forte que o radical da palavra. Elas são pedagogas que fazem pós-graduação para melhorar sua atuação, mas muitas esquecem suas bases e sua atuação fica falha. Apresentam-se sem dizer que são pedagogas.

Percebo uma desvalorização da Pedagogia. Talvez este fenômeno venha da desvalorização da profissão de professor/a. Esta auto-desvalorização tem efeitos dramáticos nas escolas e, ouso dizer, na educação nacional.

Já disse isto neste blog, mas repito com veemência: nós, psicólogas/os escolares não somos a/o atriz/ator principal nas escolas. Somos coadjuvantes que buscam melhorar os desempenhos dos profissionais e orientar os pais dos/as alunos/as. A personagem principal na escola é a professora. Sem ela não há trabalho para nós. Sem nós ela atua em plenitude. Nosso auxílio melhora sua performance.

A pedagogia deve resgatar sua importância e poder.

sábado, 4 de junho de 2011

Valorização da profissão

Fui convocada pelo Conselho Regional de Psicologia, 1ª região a palestrar sobre Psicologia Escolar. Me senti muito honrada e aceitei de pronto. O tema da apresentação era "atribuições do psicólogo escolar". O público alvo era alunos de graduação em psicologia e diretores de escolas particulares. O objetivo era sensibilizar a platéia para a importância do profissional psicólogo nas escolas.

Quatro pessoas falaram antes de mim. Entre elas uma colega acadêmica expôs um resumo do estado da arte da psicologia escolar no Brasil. Em geral, quando tantas pessoas falam sobre um determinado assunto, sobra pouco para a última falar. A derradeira palestrante passa toda a sua fala resgatando o assunto que já foi tocado.

Neste caso foi totalmente diferente. Eu era a única psicóloga escolar da mesa. Somente eu tinha experiência na área e era a mais aguardada. Infelizmente metade da platéia já tinha saído. Pois perderam. O cansaço das pessoas simplesmente desapareceu quando comecei a falar. Apresentando, através de exemplos reais, as vissicitudes e dificuldades da nossa área. Mas, principalmente, o prazer de salvar vidas incipientes e alertar os pais de suas ações negativas auxiliando-os a contribuir com o desenvolvimento efetivo dos pequenos e de si mesmos.

A informação mais importante para estudantes de psicologia é a de que nesta área nós atingimos o maior número de pessoas. Isto porque TODAS as crianças estão obrigatoriamente na escola. Com isto chegamos a todas as famílias que têm criança e podemos efetivamente influenciar a população em direção à saúde. Poucos lares estarão fora deste alcance.

Além disso, também atuamos com todo o ciclo de vida humano. Eu atendo crianças a partir de três anos até os quatorze. Mas, quem frequenta este blog já leu que atendo de fetos até avós de oitenta anos. E agimos mais sobre os adultos do que sobre as crianças.

Enfim, quem ficou até o final solicitou que na próxima oportunidade a psicóloga escolar se apresente no início dos trabalhos. Sim e eu já tinha sido convidada a falar novamente e aproveitei para pedir mais tempo. Me senti muito valorizada e expresso que esta valorização é da profissão que represento. Por isto esta postagem.

Agradeço ao CRP pela oportunidade de contribuir com minha tão amada profissão. Informo que haverá nova mesa redonda com este mesmo tema no dia 28/06/2011, às 14 horas, no IESB da Asa Sul. Todas e todos são convidados!